O
que podemos esperar de uma vitória de François Holland?
Os mais optimistas dirão que, com a
vitória de Holland, se iniciará um novo ciclo político, onde as políticas cegamente
austeritárias defendidas pelo directório Merkozy poderão dar lugar a propostas
mais favoráveis ao crescimento económico e ao combate ao desemprego. Esperemos
que seja assim. Pela minha parte, se pudesse votar, não hesitaria – votaria Holland.
Apesar disso, não me parece que as
ameaças que pairam sobre todos nós se desvaneçam com a sua vitória. A Europa, tal
como ressurgiu das cinzas depois da 2ª Guerra Mundial, vive tempos difíceis. É
bem possível que estejamos a viver o fim de uma era e nada nos garante que os
tempos futuros sejam melhores.
Os social-democratas que não se
renderam ao neoliberalismo e à “3ª via” sonham com um regresso aos “gloriosos
30” (tal como muitos comunistas sonham com um regresso ao muito menos gloriosos
tempos do “socialismo real”). Mas, infelizmente (ou felizmente, como quiserem)
tais “regressos” não são possíveis.
Vivemos o tempo da globalização
capitalista, da livre circulação de mercadorias e de capitais, que dizer, um
tempo onde a fuga maciça de capitais para paraísos fiscais, da deslocalização
de empresas para outros “paraísos”, onde os direitos dos trabalhadores são
letra morta, são práticas comuns, racionais e altamente compensadoras. Um tempo
onde o dumping social e ecológico é aceite
como inevitável. Onde a especulação financeira dita a sorte de Estados
independentes e onde a maior preocupação dos governos parece ser a de servir, não
os interesses daqueles que representam, mas o poder dos todo-poderosos “mercados”.
Em tempos destes, podemos descobrir
valores no passado, mas não soluções. Essas terão que ser inventadas para poderem
estar à altura de problemas que são novos e muito diferentes.
Será François Holland um inventor de
novas soluções? Seria pedir-lhe muito, seria pedir-lhe demais. Mas esperemos
que a sua eleição possa abrir uma brecha na actual hegemonia do ideário neoliberal
(o meu adversário não é Sarkozy, disse ele na campanha eleitoral, mas o poder
do capital financeiro) e que, por aí, algo de novo possa surgir.
Pois, é como a promoção de uma aldeia a vila, ou desta a cidade: a principal vantagem é que não tem desvantagens. Mas, já agora, dava jeito que houvesse mesmo alguma vantagem, para ver se saímos desta miséria...
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