sábado, 5 de maio de 2012



O que podemos esperar de uma vitória de François Holland?

Os mais optimistas dirão que, com a vitória de Holland, se iniciará um novo ciclo político, onde as políticas cegamente austeritárias defendidas pelo directório Merkozy poderão dar lugar a propostas mais favoráveis ao crescimento económico e ao combate ao desemprego. Esperemos que seja assim. Pela minha parte, se pudesse votar, não hesitaria – votaria Holland.

Apesar disso, não me parece que as ameaças que pairam sobre todos nós se desvaneçam com a sua vitória. A Europa, tal como ressurgiu das cinzas depois da 2ª Guerra Mundial, vive tempos difíceis. É bem possível que estejamos a viver o fim de uma era e nada nos garante que os tempos futuros sejam melhores.

Os social-democratas que não se renderam ao neoliberalismo e à “3ª via” sonham com um regresso aos “gloriosos 30” (tal como muitos comunistas sonham com um regresso ao muito menos gloriosos tempos do “socialismo real”). Mas, infelizmente (ou felizmente, como quiserem) tais “regressos” não são possíveis.

Vivemos o tempo da globalização capitalista, da livre circulação de mercadorias e de capitais, que dizer, um tempo onde a fuga maciça de capitais para paraísos fiscais, da deslocalização de empresas para outros “paraísos”, onde os direitos dos trabalhadores são letra morta, são práticas comuns, racionais e altamente compensadoras. Um tempo onde o dumping social e ecológico é aceite como inevitável. Onde a especulação financeira dita a sorte de Estados independentes e onde a maior preocupação dos governos parece ser a de servir, não os interesses daqueles que representam, mas o poder dos todo-poderosos “mercados”.

Em tempos destes, podemos descobrir valores no passado, mas não soluções. Essas terão que ser inventadas para poderem estar à altura de problemas que são novos e muito diferentes.

Será François Holland um inventor de novas soluções? Seria pedir-lhe muito, seria pedir-lhe demais. Mas esperemos que a sua eleição possa abrir uma brecha na actual hegemonia do ideário neoliberal (o meu adversário não é Sarkozy, disse ele na campanha eleitoral, mas o poder do capital financeiro) e que, por aí, algo de novo possa surgir.

Veremos. Uma coisa é certa: com a derrota de Sarkozy, não temos nada a perder.

1 comentário:

  1. Pois, é como a promoção de uma aldeia a vila, ou desta a cidade: a principal vantagem é que não tem desvantagens. Mas, já agora, dava jeito que houvesse mesmo alguma vantagem, para ver se saímos desta miséria...

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