A vitória do silêncio
Diz-se que a palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro. A eleição de António José Seguro para secretário-geral do PS vem dar razão a este popular aforismo.
No último Congresso, que quase por unanimidade, reelegeu Sócrates e glorificou a sua acção governativa, Seguro entrou mudo e saiu calado. Uma vez que não se juntou ao coro apologético, o seu silêncio foi interpretado como uma crítica. Mas, ao certo, o que é que criticava ele?
Na campanha eleitoral, contra Assis, não obtivemos respostas. Assim, cada militante do PS pode imaginar que Seguro defende aquilo que ele próprio mais gostaria que ele defendesse. E como, depois de uma derrota eleitoral, todos alimentam projectos de “refundação”, todos podem esperar que as suas ideias possam ser bem acolhidas no “laboratório” que Seguro lhes prometeu.
Puderam juntar-se, assim, no apoio a Seguro pessoas tão diferentes como Maria de Belém, Fonseca Ferreira (da “Esquerda Socialista”) e Vitalino Canas.
Está provado que, em política, aquilo que importa é saber gerir expectativas. E, pelos vistos, não defender nada é uma forma segura de não ofender ninguém e de criar amplos consensos.
Aproveito a caixa de comentários para um post scriptum:
ResponderEliminar"Chapeladas" em eleições do PS começam a ser tradição.E claro que Seguro se demarcou imediatamente dos seus camaradas que da secção de Odivelas que tomaram a iniciativa de votar nele ainda antes das urnas abrirem e Assis, que o tinha denunciado publicamente, apressou-se a dar o caso por encerrado.
Longe de mim duvidar da honestidade dos dois candidatos. Mas, se fosse militante do PS, gostaria de saber quem foram os autores da habilidade.
Será que os estatutos do partido prevêem qualquer sanção para militantes que demonstram ter uma tão curiosa interpretação das regras democráticas? Ou será que, afinal, não se perde nada em tentar?