E
se o governo se demitir?
Consideremos a hipótese do governo
pedir a demissão na sequência do chumbo do Tribunal Constitucional de várias
normas do Orçamento de Estado aprovado pela Assembleia da República. Então,
teremos certamente eleições antecipadas.
Consideremos agora que não há qualquer
acordo entre os partidos da esquerda no sentido da constituição de um governo
apoiado numa maioria parlamentar. Então, à previsível derrota dos partidos do governo, suceder-se--á
uma situação de ingovernabilidade “à italiana”.
Penso que a maioria dos eleitores
desejam o fim do governo PSD/CDS, mas não desejam lançar o país numa situação
de extrema instabilidade governativa. Neste sentido, nas próximas eleições,
assistiremos a um forte apelo no sentido do “voto útil” no PS.
Ainda que isso não se traduza na
obtenção de uma maioria absoluta, não deixará de se reflectir num crescimento
eleitoral significativo do PS, bem acima do que indiciam as últimas sondagens.
O BE, que disputa com o PS um
eleitorado que tem oscilado entre os dois partidos, seria, nestas
circunstâncias, o partido mais penalizado. Tal situação pode parecer estranha,
uma vez que o Bloco se tem batido com insistência pela realização de eleições
antecipadas. Contudo, não seria uma situação nova. Afinal, mutatis mutandi, repetir-se-ia aquilo que já aconteceu depois da
queda do governo de José Sócrates.
Pode o BE fugir a esta lógica
impiedosa do “voto útil”? Na minha opinião pode, assinando com o PS um acordo
de incidência parlamentar que garanta a estabilidade governativa. Neste quadro,
o Bloco beneficiaria do “voto útil”, uma vez que o eleitorado defensor de um
governo apoiado por uma maioria parlamentar apostaria na possibilidade dela ser
possível conjugando os votos dos deputados do PS e do BE. Além disso, o acordo
assinado entre os dois partidos daria ao governo a força necessária para
renegociar o memorando da Troika e inverter a espiral recessiva em que o
governo PSD/CDS lançou o país, tarefa impossível de levar a cabo por um governo
minoritário.
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