quarta-feira, 6 de abril de 2011

“Ajuda externa”

José Sócrates que, há dois dias, afirmava que um governo de gestão não tinha condições políticas para fazer um pedido de ajuda externa ao FMI / FEEF – fê-lo hoje mesmo.

Passos Coelho que, há poucas semanas, considerava inaceitáveis as medidas de austeridade previstas no PEC 4, apoia esse pedido de ajuda que implicará um PEC 5 bem mais gravoso que aquele que rejeitou.

Ninguém desconhece que a receita do FMI lançou a Grécia na senda de uma gravíssima recessão económica da qual ninguém vê o fim; ninguém desconhece que os níveis de desemprego na Irlanda se tornaram assustadores; e que, nestes dois países, a “ajuda externa” provocou sofrimentos sociais sem fim e sem proveito visível para o futuro desses países.

Havia alternativas? Muitos propuseram uma conjugação de iniciativas dos países mais atingidos pela crise no sentido de se conseguir uma reestruturação da sua dívida soberana, para que o capital que hoje sai do país para pagar juros especulativos pudesse ser investido na nossa indústria, na nossa agricultura, favorecendo o crescimento económico e o combate ao desemprego. Fizeram-no em defesa da economia nacional, mas também da coesão (e da sobrevivência) da zona euro. No governo, ninguém os quis ouvir. Os interesses imediatos dos nossos credores (da banca, portanto) falaram sempre mais alto.

A banca, que esteve na origem da crise internacional, decide as políticas que devem ser adoptadas para a “combater”. E, em Portugal, é uma reunião de banqueiros que obriga José Sócrates a fazer aquilo que disse que nunca faria.

Vamos ter eleições. O PS, caso seja o vencedor, vai apresentar como candidato a 1º ministro alguém que afirmou solenemente que nunca chefiaria um governo sob as ordens do FMI? O PSD, em alternativa, irá apresentar um outro que sempre disse que estava contra a subida dos impostos, mas que está agora disponível para isso e para muito mais?

Dada a apetência das respectivas clientelas pelo poder, é bem possível que assim seja. Se não forem Sócrates ou Passos Coelho outros serão. No PS e no PSD não faltarão candidatos. Mesmo que, a acreditar, na última sondagem do CESOP, tenham que repartir o bolo pelos dois…

À esquerda, mais uma vez, parece-me que resta uma atitude de resistência. Continuam por criar, a nível nacional e europeu, as condições políticas necessárias para que uma esquerda democrática e reformista se possa apresentar ao eleitorado como uma alternativa de poder. (Desculpem-me o cepticismo, mas não espero nada de particularmente novo e interessante do encontro BE – PCP.) Os tempos que aí vêm serão muito duros: possam, pelo menos, todos os partidos e forças de esquerda criar barreiras e impor medidas que os tornem mais suportáveis.

É pouco? Sim, mas para muitos isso será fundamental. E, no futuro, talvez se possa conseguir algo mais.

3 comentários:

  1. E, concordando com o post, a dúvida persiste: Qual será o melhor voto nas eleições?

    Alguma sugestão?

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  2. O meu último comentário é um pedido desesperado de ajuda e espero que seja entendido dessa forma.

    S.O.S.

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  3. Caro Fusível Activo:

    A questão que me põe não é fácil e vou alongar-me um pouco na minha resposta.

    Provavelmente, o PSD ganhará as próximas eleições e formar-se-á um governo PSD-CDS ou PSD-PS.

    Em qualquer dos casos, o seu programa será, no fundamental, este: mais privatizações, despedimentos mais fáceis, cortes salariais,subida de impostos, cortes das despesas públicas com a saúde, educação e segurança social.

    O resultado será uma profunda recessão, mais pobreza e desemprego.

    São políticas que já conheço pela mão de Sócrates. Não gosto e, por isso, não voto PS. Passos Coelho promete mais do mesmo e, se possível,pior. Também não voto PSD.

    Restam-me os partidos à esquerda do PS. Defendo uma convergência alargada e plural de todas as forças de esquerda, partidariamente alinhadas ou não, e parece-me que o Bloco (que é já ele próprio um partido onde convivem diferentes tendências ideológicas) está mais vocacionado que o PCP para avançar nesse sentido. É, portanto, para o BE que irá o meu voto.

    No entanto, parece-me que a resistência às dificuldades que aí vêem não pode passar só pela AR. Os nossos direitos e deveres de cidadãos não se esgotam num acto eleitoral.

    Espero bem que cidadãos que vão votar em partidos diferentes se possam encontrar juntos noutras formas de intervenção política. Oportunidades para isso não vão faltar.

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