Impasses
actuais e perspectivas futuras
As sondagens publicadas durante o mês
de Novembro oferecem-nos uma imagem muito clara de uma situação de impasse político.
Comecemos pela análise das intenções
de voto em futuras legislativas. A sondagem da Pitagórica, realizada entre 9 e
16/11, publicada no jornal i, dá-nos os seguintes resultados: PS – 36,2% (mais
8% do que nas últimas eleições); PSD – 26.4% (menos 12%); CDU – 9,8% (mais 2%):
CDS – 9,8 (-2%); BE – 7,5% ((mais 2%). Estes resultados estão, no essencial, de
acordo com aqueles que foram apresentados pelas sondagens anteriormente
realizadas pela Aximage e pelo Eurosondagens. Parecem-me, portanto, fiáveis.
Logo, a coligação governamental já não
dispõe de um apoio eleitoral maioritário: o PSD e o CDS somariam apenas 36,3%
dos votos. Este facto corresponde a uma avaliação negativa da acção do governo:
nota 5,8 numa classificação de 0 a 20, segundo a Pitagórica.
Contudo, segundo a mesma sondagem,
apenas 24,7% se pronuncia a favor da realização de eleições antecipadas.
Porquê? Provavelmente, porque os portugueses consideram não estarem reunidas as
condições necessárias para a formação de um governo alternativo maioritário e
considerarem que um governo minoritário do PS, comprometido com o memorando da
troika, não governaria de forma muito diferente. Portanto, a maioria dos
portugueses nem concorda com a acção deste governo nem antevê a possibilidade
de eleger outro melhor.
A formação de um governo de esquerda,
apoiado pelo PS, pela CDU e pelo BE (com um apoio eleitoral superior a 50%)
talvez pudesse oferecer uma saída para este impasse. Contudo, essa solução é
inviável desde logo por causa daquilo que separa estes partidos a respeito do
cumprimento do memorando. O que pensam os portugueses a esse respeito?
Segundo a sondagem da Pitagórica,
63,5% dos portugueses acham que o memorando deve ser cumprido, embora 84,1%
defendam que deva ser renegociado. Nota-se a este propósito uma evolução
significativa em relação a 2011, quando os partidos que se comprometeram com a
aplicação do memorando (PS, PSD e CDS) somaram 78,5% dos votos. Mas a maioria
dos portugueses continua a manifestar-se contra uma denúncia unilateral do seu
cumprimento. A percentagem daqueles que admitem essa hipótese (27,5%)
corresponde à daqueles que admitem a saída do euro (26,9%). Penso que é
possível concluir daqui que, para a maioria dos portugueses, “rasgar o
memorando” implica “sair do euro”, e recusam essa solução.
Esta associação talvez explique por que,
apesar de uma subida consistente nas intenções de voto, as sondagens publicadas
continuem a atribuir menos de 20% dos votos aos partidos anti-troika. Ou seja,
embora essa não seja a intenção declarada desses partidos, a intenção de voto
na CDU e no BE tende a aproximar-se da percentagem daqueles que estão dispostos
a sair do euro.
Aparentemente, o PS é o partido que
mais se aproxima dos sentimentos manifestados pela maioria dos inquiridos:
crítica a acção do governo, mas sem exigir a sua demissão; e defende a
renegociação “civilizada” do memorando, mas sem arriscar uma ruptura que possa
conduzir à saída do euro.
Simplesmente, na prática, esta estratégia
“cautelosa” deixa tudo como está: o PSD/CDS no governo e o governo nas mãos da
troika. E tanto o governo como a troika consideram que o memorando não tem que
ser renegociado, mas rigorosamente cumprido. Entretanto, à subida enorme dos
impostos, segue-se a redução brutal das funções sociais do Estado e o agravamento
da crise económica.
Mais cedo ou mais tarde, o povo vai exigir
a demissão deste governo e a construção de uma alternativa política. Se os
partidos que agora se manifestam na oposição não a souberem construir, alguém
se vai lembrar de convocar a tropa para resolver a situação. A sondagem da
Pitagórica diz que 1/3 dos portugueses admitem a hipótese de uma intervenção
militar. Muitos deles sonham, talvez, com um “novo 25 de Abril”. Mas receio bem
que, nesse caso, nos confrontemos antes com um “novo 28 de Maio”.
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