segunda-feira, 12 de novembro de 2012



“Rasgar o memorando”. E depois?

“Rasgar o memorando da troika” deve ter sido das afirmações mais repetidas e mais consensualmente aplaudidas durante a VIII Convenção do Bloco de Esquerda. Também se ouviu falar da necessidade de renegociar montantes, juros e prazos de pagamento da dívida, como condição do relançamento da economia e do combate ao desemprego.

Em princípio, uma coisa decorre da outra, mas coloca-se aqui uma questão de prioridades: deve começar-se por renegociar os termos do pagamento da dívida e, em função dos resultados alcançados, rever este memorando; ou, pelo contrário, deve começar-se por denunciar o memorando e partir da recusa do seu cumprimento para uma renegociação da dívida?

A primeira opção seria mais facilmente aceite pelo PS mas, partiríamos de uma posição mais fraca e tal facto poderia redundar numa revisão minimalista do memorando, inaceitável para o Bloco.

A segunda opção, parece ser aquela a que esteve na mente dos delegados à VIII Convenção. Em contrapartida, excluiria o PS e apenas se afirmaria como uma posição de força se o Bloco assumisse como resposta à possível recusa dos nossos credores em negociar nesses termos, a alternativa do incumprimento da dívida e, consequentemente, a saída do euro.

Ora, essa hipótese tem sido recusada pela direcção do Bloco. Sendo assim, qual é a sua resposta no caso da denúncia do memorando resultar no fim das transferências de capital proporcionadas pela troika? Qual é a sua resposta no caso da exigência de renegociação da dívida tiver como resultado um rotundo “Não”?

A direcção do Bloco tem todo o direito de recusar o cumprimento do memorando da troika. Já todos percebemos que a política que ele preconiza não é solução para o fim do endividamento e só pode ter como resultado mais falências, mais desemprego e mais pobreza. Mas não tem o direito de esconder dos seus aderentes e eleitores todas as consequências possíveis que advêm dessa recusa.

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