“Rasgar
o memorando”. E depois?
“Rasgar o memorando da troika” deve
ter sido das afirmações mais repetidas e mais consensualmente aplaudidas
durante a VIII Convenção do Bloco de Esquerda. Também se ouviu falar da
necessidade de renegociar montantes, juros e prazos de pagamento da dívida,
como condição do relançamento da economia e do combate ao desemprego.
Em princípio, uma coisa decorre da
outra, mas coloca-se aqui uma questão de prioridades: deve começar-se por renegociar
os termos do pagamento da dívida e, em função dos resultados alcançados, rever
este memorando; ou, pelo contrário, deve começar-se por denunciar o memorando e
partir da recusa do seu cumprimento para uma renegociação da dívida?
A primeira opção seria mais facilmente
aceite pelo PS mas, partiríamos de uma posição mais fraca e tal facto poderia
redundar numa revisão minimalista do memorando, inaceitável para o Bloco.
A segunda opção, parece ser aquela a que
esteve na mente dos delegados à VIII Convenção. Em contrapartida, excluiria o
PS e apenas se afirmaria como uma posição de força se o Bloco assumisse como
resposta à possível recusa dos nossos credores em negociar nesses termos, a
alternativa do incumprimento da dívida e, consequentemente, a saída do euro.
Ora, essa hipótese tem sido recusada
pela direcção do Bloco. Sendo assim, qual é a sua resposta no caso da denúncia
do memorando resultar no fim das transferências de capital proporcionadas pela
troika? Qual é a sua resposta no caso da exigência de renegociação da dívida
tiver como resultado um rotundo “Não”?
A direcção do Bloco tem todo o direito
de recusar o cumprimento do memorando da troika. Já todos percebemos que a política
que ele preconiza não é solução para o fim do endividamento e só pode ter como
resultado mais falências, mais desemprego e mais pobreza. Mas não tem o direito
de esconder dos seus aderentes e eleitores todas as consequências possíveis que
advêm dessa recusa.
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