Ou…
ou…
O pagamento da dívida pública só é
possível no quadro de um crescimento do PIB de 4% ao ano. As medidas de
austeridade que têm sido adoptadas têm um efeito recessivo. Logo, nunca
conduzirão a esse objectivo. Pelo contrário, num contexto recessivo a dívida
vai crescer, obrigando a novas medidas de austeridade que vão acentuar a
tendência recessiva.
Outras medidas, ainda que eticamente
defensáveis (combate ao desperdício, luta contra a corrupção e a fuga ao fisco,
taxação agravada das grandes fortunas, etc.), serão sempre insuficientes do
ponto de vista do equilíbrio das contas públicas.
O cancelamento do pagamento de uma
parte substancial da dívida, disponibilizando os capitais necessários ao
investimento público, é uma condição fundamental do relançamento económico.
Essa medida ou se realiza no quadro de uma renegociação da dívida junto dos
nossos credores ou terá que ser tomada unilateralmente.
Neste último caso, implicaria a
cessação imediata do financiamento externo. Como o Estado não pode subsistir
sem dinheiro, teria que fazer face às inevitáveis despesas com a função pública
e com as prestações sociais, emitindo moeda. Ou seja, a saída do euro seria
inevitável e a inflação dispararia. A curto prazo, as condições de vida da
maioria dos portugueses agravar-se-ia extraordinariamente. Mas, segundo alguns
economistas, a desvalorização da moeda criaria as condições necessárias para a
diminuição das importações e o relançamento da indústria nacional.
A alternativa seria o cancelamento de
parte da dívida com o acordo dos credores. Nesse caso, o regresso aos mercados
financeiros estaria comprometido por muitos anos. Em termos de financiamento
externo, ficaríamos completamente dependentes do FMI, do BCE e da CE. Mas, como
vimos, isso não poderia implicar a prossecução das medidas de austeridade
preconizadas pelo memorando assinado com a troika.
Teria que passar por uma revisão
radical da política económica actualmente dominante na UE e, nomeadamente, por
uma redução muito significativa dos juros dos empréstimos obrigacionistas. Por
exemplo, através da emissão de eurobonds. Contudo, e improvável que os países nórdicos
aceitem uma mutualização da dívida sem obterem o poder de fiscalizar as políticas
orçamentais dos países do sul, mais endividados. A contrapartida dos eurobonds será
uma perda de soberania. No limite, evoluiríamos no sentido da transformação da
UE num Estado federal.
Este é o dilema com que, mais cedo ou
mais tarde, nos vamos confrontar: ou a saída do euro, ou a integração numa
Europa federal.
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