Contra
este governo e contra a troika – e depois?
As manifestações do passado dia 15
foram das maiores jamais realizadas em muitas cidades do país. No conjunto,
trouxeram à rua centenas de milhar de pessoas! Jovens e reformados,
funcionários públicos e trabalhadores do privado, activistas políticos das mais
diferentes origens e pessoas que, até ontem, nunca tinham participado em
qualquer manifestação – todos unidos pela rejeição inequívoca das políticas de
austeridade que nos tem sido imposta pela parelha Passos - Gaspar e pela troika.
E diga-se desde já que, para além de
uma certa cacofonia, inevitável em grandes manifestações semi-espontâneas como
aquelas que ontem se realizaram, eles têm razão. Até ontem, os portugueses
suportaram mais ou menos resignadamente as medidas de austeridade que lhe foram
apresentadas como inevitáveis. Mais de um ano depois fizeram-se as contas: o país
entrou numa profunda recessão, as falências sucedem-se todos, o desemprego
atinge recordes (e grande parte dos desempregados já perdeu o direito ao subsídio),
os jovens mais qualificados tentam emigrar e os muitos reformados são atirados
para a miséria.
E tudo isto para quê? O país está mais
endividado e a meta para a redução do défice prevista para 2013 (3% do PIB) já
passou para 2014 e ninguém pode garantir que nessa data seja atingida. O país
entrou já numa espiral recessiva (aumento do défice – mediadas de austeridade –
recessão económica – aumento do défice) da qual não se vê o fim.
Entretanto, se milhões são atingidos
pela pobreza, se o desemprego alastra e trabalho se vende ao preço da chuva,
alguns beneficiam com isso. Portugal é um dos três países da Europa onde é
maior o fosso social entre os mais ricos e os mais pobres. Têm razão para estar
satisfeitos os grandes capitalistas que investiram em actividades protegidas por
rendas garantidas pelo Estado (as PPP’s, por exemplo) ou por situações de monopólio
(EDP, REN, GALP, etc.). O governo (este, tal como o anterior) tem agido como
serventuário desses interesses (sabe-se, aliás, da facilidade com que se passa
da condição de ministro para a de administrador dessas grandes empresas) e dos
interesses do capital financeiro.
As grandes manifestações do dia 15
mostraram claramente que esta situação é insustentável. Resta, agora, o mais
importante, que saibamos passar do protesto à construção de uma alternativa,
que terá que passar necessariamente pelo entendimento de todas as forças de
esquerda. Porque não nos podemos iludir: a substituição do governo PSD-CDS por
um governo minoritário do PS, governando apoiado pela direita na AR e sob a
vigilância da troika, seria, no essencial, a repetição do que já conhecemos.
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