domingo, 16 de setembro de 2012



Contra este governo e contra a troika – e depois?


As manifestações do passado dia 15 foram das maiores jamais realizadas em muitas cidades do país. No conjunto, trouxeram à rua centenas de milhar de pessoas! Jovens e reformados, funcionários públicos e trabalhadores do privado, activistas políticos das mais diferentes origens e pessoas que, até ontem, nunca tinham participado em qualquer manifestação – todos unidos pela rejeição inequívoca das políticas de austeridade que nos tem sido imposta pela parelha Passos - Gaspar e pela troika.

E diga-se desde já que, para além de uma certa cacofonia, inevitável em grandes manifestações semi-espontâneas como aquelas que ontem se realizaram, eles têm razão. Até ontem, os portugueses suportaram mais ou menos resignadamente as medidas de austeridade que lhe foram apresentadas como inevitáveis. Mais de um ano depois fizeram-se as contas: o país entrou numa profunda recessão, as falências sucedem-se todos, o desemprego atinge recordes (e grande parte dos desempregados já perdeu o direito ao subsídio), os jovens mais qualificados tentam emigrar e os muitos reformados são atirados para a miséria.

E tudo isto para quê? O país está mais endividado e a meta para a redução do défice prevista para 2013 (3% do PIB) já passou para 2014 e ninguém pode garantir que nessa data seja atingida. O país entrou já numa espiral recessiva (aumento do défice – mediadas de austeridade – recessão económica – aumento do défice) da qual não se vê o fim.

Entretanto, se milhões são atingidos pela pobreza, se o desemprego alastra e trabalho se vende ao preço da chuva, alguns beneficiam com isso. Portugal é um dos três países da Europa onde é maior o fosso social entre os mais ricos e os mais pobres. Têm razão para estar satisfeitos os grandes capitalistas que investiram em actividades protegidas por rendas garantidas pelo Estado (as PPP’s, por exemplo) ou por situações de monopólio (EDP, REN, GALP, etc.). O governo (este, tal como o anterior) tem agido como serventuário desses interesses (sabe-se, aliás, da facilidade com que se passa da condição de ministro para a de administrador dessas grandes empresas) e dos interesses do capital financeiro.

As grandes manifestações do dia 15 mostraram claramente que esta situação é insustentável. Resta, agora, o mais importante, que saibamos passar do protesto à construção de uma alternativa, que terá que passar necessariamente pelo entendimento de todas as forças de esquerda. Porque não nos podemos iludir: a substituição do governo PSD-CDS por um governo minoritário do PS, governando apoiado pela direita na AR e sob a vigilância da troika, seria, no essencial, a repetição do que já conhecemos.

Saibam todos os partidos da esquerda estar à altura das exigências de mudança das centenas de milhar de pessoas que ontem, por todo o país, saíram à rua.

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