domingo, 11 de dezembro de 2011

Ruptura(s)…

“200 militantes da Ruptura/FER abandonam o Bloco de Esquerda”. Não fosse a ênfase dada ao acontecimento por alguma comunicação social, não valeria a pena perder tempo nenhum com esta notícia. De facto, a Ruptura/FER nunca se integrou plenamente no Bloco. Limitou-se a parasitá-lo, procurando retirar dividendos próprios dos êxitos que o BE foi alcançando desde a sua fundação. Manteve-se no Bloco como organização independente, com dirigentes, um programa e uma estratégia próprias, esperando apenas o melhor momento para sair reforçada do seu seio. Pelos vistos, esse momento, longamente anunciado, finalmente chegou. Resultado do trabalho de sapa desenvolvido ao longo de cerca de dez anos – 200 militantes…

O “entrismo” em organizações políticas mais fortes, realizado às claras ou clandestinamente, é uma táctica frequentemente seguida por pequenos grupos trotskistas com problemas de “ligação às massas”. É conhecida a entrada, com esse fim, do grupo liderado por Aires Rodrigues e por Carmelinda Pereira (trotskistas, de tendência lambertista) no PS. Quando decidiram “cindir”, formaram o POUS. Da “cisão” agora promovida por Gil Garcia (trotskista de tendência morenista) no Bloco, nascerá também um novo partido, que, com certeza, disputará com o POUS o lugar da vanguarda organizada da revolução que aí vem…

Para que tal “revolução” possa avançar a Ruptura/FER propõe uma aliança com o PCP. Bem sei que, por exemplo, aqui em Braga, na Universidade do Minho, os estudantes da Ruptura/FER, nunca conseguiram sequer elaborar listas conjuntas com os da JCP nas eleições para a Associação de Estudantes. Não importa. Jerónimo de Sousa, a esta hora, já deve ter convocado o Comité Central do PCP para discutir aquela extraordinária hipótese.

Quanto, ao programa da “revolução” estamos entendidos: pretende-se instaurar a “ditadura do proletariado”, colectivizar os meios de produção e impor um modelo económico de desenvolvimento apoiado num plano central. Ou seja, repetir a experiência soviética de 1917, mas agora com Gil Garcia no lugar de Lenine.

No curto prazo, começa-se por decidir unilateralmente a suspensão do pagamento da dívida pública. Mas não deixará, então, de haver dinheiro para pagar salários e pensões? O que é que isso importa se a revolta das massas conduzir Gil Garcia ao poder? Mas a aplicação daquele programa não nos obrigará a sair da UE, ficando Portugal completamente isolado no contexto europeu? (Estou a lembrar-me de pequenos pormenores; por exemplo, não somos auto-suficientes em bens alimentares e energia.) Isolados? Nem pensar. Quando souberem da vitória da revolução portuguesa, liderada pela Rutura/FER, alemães e franceses não hesitarão em seguir-lhe o exemplo.

Em conclusão. Os 200 militantes da Ruptura/FER vão juntar-se a “outras forças” para formar um novo partido. A Revolução Proletária vem aí. A burguesia que se cuide.

Uma pequena adenda final: Embora defenda a tomada do poder pela via insurreccional, a Ruptura/FER (ou o partido que agora dizem querer formar), se então ainda existir, não deixará de querer concorrer às próximas eleições legislativas. Recordemos, portanto, o currículo dos trotskistas-morenistas nesta matéria. Sob a designação de "Liga Socialista dos Trabalhadores", concorreram nas legislativas de 1983, tendo obtido 11.500 votos (0,20%); e, em 1989, rebaptizados "Frente Esquerda Revolucionária", voltaram a concorrer tendo alcançado 6.661 votos (0,12%). Será que, nas próximas eleições, vão conseguir ultrapassar estas ambiciosas fasquias?

1 comentário:

  1. Caro amigo, podendo ser verdade tudo o que diz acerca dos trotskistas, não lhe parece que do seu discurso se pode depreender que defende a burguesia, a sociedade capitalista e que não defende os proletários e a revolução histórica inevitável? Nem todos os revolucionários anti-capitalistas são trotskistas ou revisionistas, por exemplo.

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