As lições da Grécia – parte II
Poucos dias depois de ter ameaçado referendar o programa de austeridade imposto pela dupla troika – e de, por isso, ter deixado os “mercados” à beira de um ataque de nervos, Papandreou foi convocado por Merkl-Sarkozy para uma reunião e regressou a casa arrependido. A questão era simples: ou a Grécia aceitava sem reservas aquele programa ou saía do euro.
A não aceitação do programa de estabilidade implicava a cessação do financiamento prestado pelo FMI e pelo FEEF e a entrada da Grécia em bancarrota. Por outro lado, esse facto implicava que o mesmo pudesse acontecer a outros países (afinal, a integração de um país na EU e na zona euro, não era garantia de coisa nenhuma). Logo, os juros das obrigações emitidas por outros Estados subiria em flecha e solvabilidade da dívida desses países ficaria ameaçadíssima. A bancarrota, por exemplo, da Itália, traria consequências de dimensão catastrófica e, por fim, seria todo o projecto europeu que estaria em causa.
Não era apenas a sorte da Grécia que se jogava no referendo proposto por Papandreou, mas a de toda a União Europeia. Seria, portanto, legítimo que fossem apenas os gregos a decidir?
A questão é pertinente, mas pode ser colocada doutra forma: será que os gregos podem entregar o seu destino nas mãos do chanceler da Alemanha e do Presidente da França, de alguém que, afinal, não elegeu nem pode demitir?
É verdade que decisões que impliquem toda a União Europeia devem ser tomadas por instituições europeias. Simplesmente, quando a Comissão Europeia tem uma legitimidade democrática mínima e quando, além disso, se acha totalmente subalternizada diante do directório Merkozy, estes processos de transferência de soberania só podem significar que a democracia nos países que integram a zona euro se tornou, em larga medida, numa realidade obsoleta.
Os gregos já não vão eleger um governo com um programa económico próprio. Esse, a troika já o decidiu. Vão apenas escolher quem o vai executar.
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