Uma vitória e uma derrota sem surpresas
A vitória do PSD, bem como a formação da maioria de direita PSD-CDS que vai sustentar o próximo governo não pode surpreender ninguém dotado de um mínimo de bom senso. Quando os portugueses votam para a Assembleia da República estão a eleger deputados, mas estão a pensar num governo. E, pura e simplesmente, nas circunstâncias políticas actuais, nenhuma alternativa de esquerda se contrapunha à hipótese que venceu.
O PS saiu de seis anos de governação, tendo para apresentar um balanço de 800.000 desempregados, 2 milhões de pobres, uma economia em recessão e um Estado perto da bancarrota. Sem apoios à sua direita ou à sua esquerda, e sem que ninguém encarasse sequer a possibilidade de uma reedição de um governo minoritário liderado por José Sócrates, partia derrotado para estas eleições.
O Bloco de Esquerda esteve confinado à condição de um partido de denúncia e de protesto e, para a maioria dos eleitores, tanto faz que essa função (aliás, necessária e importante) seja desempenhada por um grupo parlamentar de 16 ou de 6 deputados.
Na CDU votaram os do costume (nos últimos 20 anos, tem eleito entre 15 e 17 deputados, agora elegeu 16). Trata-se de uma oposição domesticada e previsível. Já todos perceberam, e a direita melhor do que ninguém, que não é dali que virá qualquer mudança capaz de a pôr em perigo.
Passos Coelho ganhou folgadamente estas eleições. Não por mérito próprio – penso que poucos esperam que da acção do próximo governo possam surgir melhores dias. A direita ganha as eleições por demérito de Sócrates e por falta de comparência da esquerda em geral.
A crise continua e agravar-se-á. A ausência de uma alternativa de esquerda também?
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