15 de Outubro – a revolta inevitável
O Orçamento de Estado para 2012 condena Portugal a trilhar os mesmos caminhos já percorridos pela Grécia. A receita da troika – violentas medidas de austeridade com um forte efeito recessivo – já foi ali experimentada com os resultados que se conhecem: a Grécia só não entrou ainda em bancarrota porque a França e a Alemanha temem as consequências disso sobre a sua propria banca. A Grécia é como um doente que só sobrevive porque está ligado à máquina. E o que se discute é se será ou não preferível desligá-la.
Ainda assim, Passos Coelho considera “indispensável” adoptar em Portugal a terapêutica que conduziu a Grécia a esta triste situação. E mais: parece-lhe indispensável reforçar as doses do mesmo medicamento e apresenta-se como sendo mais troikista que a própria troika.
Alguém acredita ainda que os cortes nos salários, nas pensões, nas indemnizações por despedimentos são provisórios? Quem o afirma é a mesma pessoa que ganhou as eleições prometendo não subir impostos e não tocar nos subsídios de férias e de Natal.
A redução drástica do poder de compra dos portugueses, e não apenas dos mais pobres mas também da classe média, só pode traduzir-se em mais falências, em mais desemprego e em mais pobreza. E, nestas circunstâncias, serão as próprias receitas fiscais do Estado que serão afectadas. Então, e mais uma vez em nome do equilíbrio orçamental, surgirão novas e cada vez mais gravosas medidas de austeridade.
Só é possível sair deste círculo vicioso renegociando a dívida, alargando prazos de pagamento e reduzindo juros. Só assim, será possível relançar a procura e estimular o investimento.
O que é que devemos privilegiar, a economia ou as finanças, os interesses das pessoas ou os interesses da banca? Nos EUA, o “movimento dos 99%”, “ocupar Wall Street”, deu-nos a resposta correcta. No dia 15 de Outubro, por todo o mundo realizar-se-ão manifestações que vão proclamar bem alto que o desemprego, a precariedade e a pobreza não são inevitáveis. Inevitável é a indignação e a revolta.
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