sábado, 8 de agosto de 2009

De que falamos quando falamos de arte?

A arte conceptual - de Joseph Kosuth a Barbara Kruger

"Arte" é aquilo que designamos como tal. Ou seja, não existem características objectivas, propriedades observáveis que, por si só, definam obra de arte. Um objecto artístico e um objecto vulgar podem ser visualmente indiscerníveis. Tudo depende de uma decisão do "mundo da arte". A definição de objecto artístico tem, portanto, um fundamento institucional.

O "mundo da arte" não é uma instituição formalmente organizada. Pertencem ao mundo da arte todos aqueles que, de qualquer maneira, criam, exibem ou apreciam um objecto artístico.

Essa avaliação crítica não tem de ser necessariamente positiva. Diante da Fonte, de Marcel Duchamp podemos afirmar: "isto não presta". Mas, com essa afirmação, não estamos a dizer que não gostamos daquele urinol enquanto louça sanitária, mas que "aquilo" não presta como obra de arte. Contudo, nesse caso, já estamos a submetê-lo a uma apreciação artística, logo, implicitamente, já o consideramos como obra de arte, embora substimemos o seu valor.

Os artistas conceptuais consideram depreciáveis como elementos definidores de arte quaisquer características formais dos objectos artísticos. E, como tal, defendem que essa definição não pode partir de considerações estéticas. Em última análise, o objecto artístico pode ser substituído pela enunciação da ideia que lhe estaria subjacente. Neste sentido, opera-se uma desmaterialização da arte. Questiona-se a natureza da criação artística como produção de objectos únicos, de qualidade excepcional, e, portanto, passíveis de alcançar um elevado valor mercantil e simbólico.




A four color sentence, de Joseph Kosuth, explicita a redundância existente entre aquela frase e a sua apresentação e, portanto, podemos compreendê-la como uma reflexão política acerca do lugar institucional da arte, dos sistemas dominantes de realização, distribuição e valoração do objecto artístico.




Num contexto pós-conceptual, a "ideia" traduzida numa afirmação pode funcionar já, explicitamente, como instrumento de intervenção socio-política. Acontece assim, por exemplo, nas obras de Barbara Kruger que nos confrontam com atitudes reverenciais em face do poder, nomeadamente numa perspectiva crítica feminista.



Por outro lado, verificamos um processo de dessacralização da arte pela subordinação das suas opções formais a preceitos de eficácia comunicacional claramente devedores das técnicas e dos recursos do design publicitário.

Barbara Kruger. Convido os meus leitores menos famialirizados com alguns aspectos da arte contemporânea a visitar no Google as obras desta artista americana politicamente comprometida.




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