segunda-feira, 8 de julho de 2013

ELEIÇÕES ANTECIPADAS?



“Senhor Presidente, respeite a vontade do povo e demita o governo” (Arménio Carlos na manifestação que, no último sábado, juntou cerca de 1.000 pessoas em frente do Palácio de Belém). Não faltam boas razões que justifiquem a sua declaração a favor de eleições antecipadas. Contudo, ela parte de um pressuposto que talvez esteja errado: segundo a sondagem publicada no Expresso, apenas 37,2% dos eleitores se pronunciam nesse sentido.

Os 36,6% que apoiam a continuidade de um governo PSD/CDS mais ou menos recauchutado corresponderão, talvez, ao apoio eleitoral dos partidos do governo. Socorro-me agora de uma outra sondagem, publicada no i, que dá 25,4% de intenções de voto ao PSD e 9,5% ao CDS. É, no entanto, bem provável que, depois da crise aberta pela demissão “irrevogável” de Paulo  Portas, estes números tenham que ser “revistos em baixa”.

Parto do princípio que Cavaco Silva dará posse ao novo governo. Como se sabe, há quem afirme que a posição do CDS no governo sairá reforçada após a remodelação que se anuncia. Não me parece que seja assim. A governação continuará a ser ditada pela troika e tem como programa fundamental o corte de 4.700 milhões de euros nas despesas do Estado (em salários, pensões e várias prestações sociais). As consequências recessivas da aplicação deste programa serão brutais e atirarão para as calendas quaisquer veleidades de aposta no crescimento económico. Ora, o “reforço” das responsabilidades do CDS no governo atam-no de pés e mãos à sua aplicação e inviabilizam qualquer possibilidade de “distanciamento crítico” de Paulo Portas.

O barco do governo vai ao fundo. Vítor Gaspar já saltou borda fora e Paulo Portas queria seguir-lhe as pisadas, mas Passos Coelho garantiu que, a partir de agora, toda a tripulação se afundaria com ele.

Voltemos à questão das eleições antecipadas. Por que é que o PCP insiste no tema, sabendo que, com toda a probabilidade, delas resultará uma vitória do PS? O novo acordo, que se pretende “sólido e abrangente”, assinado entre Passos Coelho e Paulo Portas veio inviabilizar definitivamente a possibilidade, acalentada por muitos socialistas, de um governo PS-CDS. E a recusa do PCP em estabelecer qualquer aliança como os socialistas condena António José Seguro a formar um governo frágil e minoritário que acabará por ficar manietado pelas imposições da troika. Ou seja, o PCP deseja eleições antecipadas para ver o PS consumir-se na fogueira que já reduziu o PSD a cinzas. Liquidados assim os partidos do bloco central, ficaria aberto o caminho para um governo liderado pelo PCP e apoiado pelos Verdes e “outras forças” sociais. A mim, este plano parece-me uma fantasia, mas convenhamos que na perspectiva dos comunistas faz todo o sentido.

Sendo assim, porque é que António José Seguro continua a defender as eleições antecipadas? Penso que a impopularidade crescente deste governo não lhe deixa alternativa, sob pena de ser acusado de contemporizar com o processo de destruição da economia, do emprego e do Estado Social em curso. Contudo, parece-me que se trata sobretudo de um recurso retórico. De facto, o PS aposta numa vitória eleitoral com maioria absoluta e a possibilidade desse desejo se concretizar será tanto maior quanto mais tarde cair o governo.

Evidentemente, há uma outra alternativa que passa por um acordo entre o PS e o BE. Mas também ela exige tempo para ser trabalhada. Não se compadece com a realização de eleições em Outubro.

Em conclusão. Há muitas e fortes razões para exigir eleições antecipadas, mas falta ainda um “pequeno detalhe” – uma alternativa credível ao governo actual. Não será por isso que só 37,2% dos eleitores consultados pela Euroexpansão se pronunciam a seu favor?

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