domingo, 12 de fevereiro de 2012

Protestar e vencer

300.000 pessoas no Terreiro do Paço. A manifestação da CGTP do passado dia 9 terá sido, segundo os organizadores, a maior realizada em Portugal nos últimos 30 anos.

Segundo o INE, em 2009, existiam em Portugal 1,9 milhões de pobres e 2,7 milhões de pessoas dependiam de transferências sociais para não caírem também na pobreza. A política de austeridade assumida pelo governo PSD-CDS tem promovido cortes sucessivos desses apoios e, portanto, a situação está a agravar-se assustadoramente.

No passado dia 11, diante do abismo da recessão, do desemprego, da descida dos salários reais, da perda de regalias sociais das quais depende uma existência humana com um mínimo de dignidade, 300.000 pessoas uniram-se, ultrapassando diferenças políticas e ideológicas, para dizer NÃO – e isso é, a todos os títulos, admirável. Significa que ainda estamos vivos e que, portanto, não há lugar para a desesperança.

Por outro lado, na véspera desta grandiosa manifestação de protesto, a SIC e o Expresso publicaram uma sondagem com os seguintes resultados (acrescentamos entre parênteses os resultados das últimas Legislativas): PSD – 35% (38,6), PS – 30% (28), CDS – 11,7% (11,7), CDU – 8,5% (7,9), BE – 6,5% (5,1). Ou seja, embora a sondagem revela uma ligeira tendência para o crescimento dos partidos da esquerda, se se realizassem agora eleições para a AR, o PSD e o CDS manteriam a maioria absoluta e os partidos que assinaram o memorando da Troika teriam, no seu conjunto, 76,7% dos votos.

Ninguém pode garantir que estes resultados sejam absolutamente fiáveis. Também não garanto que no Terreiro do Paço tenham estado mesmo 300.000 pessoas. No entanto, admitindo que estes números sejam verdadeiros, nem por isso diria que são contraditórios. Afinal, a vitória de Passos Coelho foi antecedida pela gigantesca manifestação semi-espontânea dos “indignados”.

Manifestações de rua são expressões de descontentamento, eleições são escolhas de alternativas. E a verdade é que se a esquerda tem sabido canalizar o descontentamento popular para grandes manifestações de protesto, nem por isso tem sabido apresentar alternativas de governação que o eleitorado considere justas e viáveis.

Enquanto esta questão não for resolvida, por maior que venha a ser o descontentamento social, a direita estará condenada a governar e a política contra a qual nos manifestamos prosseguirá.

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