O ABC da(s) crise(s) – parte II
Reduzindo a coisa à sua fórmula mais simples, escrevi no meu último post que, perante a crise actual, há quem defenda que não é possível relançar o desenvolvimento económico sem primeiro resolver o problema da dívida pública e há quem afirme que a questão da dívida pública só pode resolver-se com o crescimento económico.
É evidente que entre estas duas posições se podem descobrir diferentes nuances. Nomeadamente, do ponto de vista da defesa de um equilíbrio orçamental, há quem defenda cortes severos nas despesas públicas com a segurança social, a saúde e a educação e há quem preferisse ver devidamente taxadas as grandes fortunas e os lucros do capital. E, do ponto de vista do crescimento económico, há quem considere que ele só ocorrerá se os lucros dos investidores privados aumentarem pela descida dos custos do trabalho e quem defenda que não haverá investimento se não houver procura e não haverá procura se o poder de compra dos trabalhadores estiver esmagado pelas medidas de austeridade. Enfim, há que defenda um “Estado mínimo” e quem defenda o Estado social e o investimento público.
Em última análise, trata-se de escolhas políticas. A direita neoliberal defende que o benefício dos mais ricos acabará por se traduzir num benefício geral. A esquerda considera que o neoliberalismo apenas garante o aprofundamento o enriquecimento dos primeiros e o alargamento das desigualdades sociais. Os primeiros incensam as virtualidades auto-reguladoras dos mercados, os segundos defendem a intervenção reguladora do Estado e a sua função na redistribuição das riquezas.
Podemos constatar entre estas duas posições nos EUA, onde se opõem as políticas defendidas pelo presidente Obama e aquelas que são defendidas pela maioria republicana no Senado e na Câmara dos Representantes. Mas enquanto na América a eleição de Obama permitiu que, até certo ponto, fosse questionado o ciclo de políticas neoliberais inaugurado por Reagan, na Europa o exemplo de Tatcher continua a frutificar nos diferentes governos, tendo inclusive passado a influenciar os partidos trabalhistas, socialistas e social-democratas, rendidos à “terceira via”.
Parece evidente que as medidas que têm que ser tomadas para podermos sair da crise têm necessariamente que passar por decisões assumidas à escala europeia. Ora, enquanto as políticas neoliberais mantiverem a hegemonia de que actualmente desfrutam no seio da UE, não haverá motivos para alimentar boas expectativas. A saída para a crise económica implica escolhas políticas que ainda estão por fazer.
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