quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os silêncios de Cavaco ou coerência da incoerência e a clareza da obscuridade

Paulo Portas e Passos Coelho sabem que uma moção de censura ao Governo, apresentada pela direita na AR pode ser chumbada. Por isso, apoiam a reeleição de Cavaco: esperam dela a dissolução da AR e a convocação de eleições antecipadas. O que é que fará Cavaco se for reeleito?
O projecto de Paulo Portas e de Passos Coelho, uma vez no governo, é o de desmantelar o que resta do Estado social. Como reagirá Cavaco se for reeleito?
Se quisermos obter respostas para estas questões nas declarações de campanha do candidato Cavaco Silva, arriscamo-nos a ficar confusos. Já disse que a entrada do FMI em Portugal significa o falhanço do Governo e anunciou a abertura de uma crise política. E, assim, cativou os votos da direita que vê nele o salvador da pátria. Mas também já disse gostar pouco da “bomba atómica” e, assim, encheu de esperanças os socialistas que não querem acreditar que ele dissolva a AR e prossiga, num eventual 2º mandato, a política de “convergência estratégica” (quer dizer, a política de apoio às medidas de austeridade ditadas a Sócrates pelos “mercados”) que praticou nestes últimos anos.
Confusos? Não há razão para isso. Cavaco diz tudo aquilo que for preciso para captar os votos do eleitorado do CDS, do PSD e do PS. O que vier a seguir se verá…
A questão da defesa ou do desmantelamento do Estado social está no centro do debate político entre a esquerda e a direita. Qual é posição de Cavaco? Não diz. Deixa ao cuidado de cada um imaginar aquilo que mais lhe convém e, assim, pretende capturar o voto de todos. O que vier a seguir se verá…
É claro que, como não se cansa de repetir, é professor de finanças, um homem sensato e experiente… Portanto, há que ter confiança: decidirá o que for melhor.
Mas, se não estou em erro, já era um “professor de finanças”, “sensato” e “experiente” nos últimos anos. O que é que decidiu então? Ouviram-no criticar a política económica do governo, da Comissão Europeia, do banco Central Europeu? Ouviram-no defender medidas alternativas à ditadura dos “mercados”, à febre especulativa que estrangula qualquer hipótese de desenvolvimento económico? Alguém o viu sair em defesa dos desempregados e dos trabalhadores precários? Alguém sabe o que é que ele pensa do projecto de Passos Coelho que pretende eliminar a “justa causa” da lei dos despedimentos?
Sei apenas que a Comissão de Honra da sua candidatura está recheada de nomes que todos os dias clamam na comunicação social pelo FMI, ou seja, pelo agravamento das políticas de austeridade que já conhecemos.
É claro que sobre isto Cavaco também não diz nada. Ele sabe que se dissesse o que lhe vai na alma perderia votos e, provavelmente, as eleições. Calado, talvez as possa ganhar… E depois se verá.

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