segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Uma vitória da direita, um futuro incerto
Cavaco Silva foi reeleito com 52,9% dos votos – menos 10% do que lhe era atribuído por algumas sondagens e a mais pequena percentagem obtida até hoje por todos os presidentes reeleitos. Mas venceu e, com ele ganharam o PSD, o CDS e todos aqueles que anseiam pelo cumprimento do sonho de Sá Carneiro: um Governo, uma maioria, um Presidente.
Assim, perante este triunfo da direita, pareceu-me no mínimo estranho assistir às manifestações de júbilo de Fernando Nobre e dos seus apoiantes, que cantavam vitória. Julgava eu que todos aqueles que se opunham à reeleição de Cavaco tinham perdido…
Em eleições presidenciais anteriores, votei em Ramalho Eanes (contra Soares Carneiro), em Mário Soares (contra Freitas do Amaral) e em Jorge Sampaio (contra Cavaco Silva). Julgo que, pelos mesmos motivos, a grande maioria do “povo da esquerda” fez então as mesmas opções. E foi por isso que os candidatos da direita, que era maioritária na AR, perderam essas eleições. O mesmo não aconteceu desta vez - que cada um assuma as suas responsabilidades.
Devo dizer que, no plano ideológico, me senti sempre mais próximo de Manuel Alegre do que qualquer um dos candidatos (e presidentes) citados. De forma, que foi também com estranheza que constatei a resistência de uma parte da esquerda em oferecer-lhe o seu voto. Uma esquisitice que lhe poderá sair cara.
Entretanto, novos combates se avizinham. Uma sondagem da Intercampus para a TVI, divulgada na noite das eleições, atribui a vitória ao PSD com 36,8% dos votos, em próximas legislativas. O CDS-PP obteria 5,8%, pelo que a direita não conquistaria a maioria na AR. Nestas circunstâncias, as pressões sobre Cavaco Silva para que convoque eleições legislativas antecipadas vão, temporariamente, atenuar-se. O Governo continuará a assar no lume brando da crise e das medidas de austeridade até à apresentação do próximo Orçamento de Estado.
Resta saber se, então, a esquerda crítica da actual política governativa saberá reunir forças e apresentar alternativas mobilizadoras que impeçam que esta vitória de Cavaco se complete, daqui a um ano, por uma nova vitória do PSD/CDS-PP.

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