A oeste, nada de novo
Como se
sabe, as últimas previsões da OCDE anunciam uma recessão mais grave do que
aquela que o governo previa e, consequentemente, um agravamento do défice
superior ao esperado. O governo desvaloriza-as mas, pelo sim pelo não, ensaia
uma mudança de discurso e Vítor Gaspar diz-nos que chegou “a hora do
investimento”. Entretanto, o Orçamento Rectificativo que vai ser apresentado na
AR na próxima semana promete despedimentos e cortes salariais na função púbica,
cortes nas pensões pagas pela CGA e cortes nos subsídios de desemprego. Ou
seja, mais medidas de austeridade com um inevitável efeito recessivo. Mais desemprego,
mais pobreza. Enfim, encerram-se mais postos dos Correios, perante a revolta
das populações afectadas, mas tornando-os ainda mais apetecíveis para aqueles
que se preparam para a sua privatização.
Entretanto,
sob o patrocínio de Mário Soares, as esquerdas reuniram-se na Aula Magna para
exigir o fim da austeridade. Podia ser um passo importante para a criação de
uma alternativa ao governo PSD/CDS. Mas não foi. As ausências de António José
Seguro e de Jerónimo de Sousa só podem ser interpretadas como um sinal de
distanciamento do PS e do PCP e o maior empenhamento do Bloco não se traduziu
num discurso que denotasse a vontade de ultrapassar velhos bloqueios.
Seguro não
acredita na viabilidade de um governo das esquerdas e prefere apostar numa
muito improvável maioria absoluta do PS ou numa aliança do seu partido com o CDS,
que apenas nos traria mais do mesmo. Para Jerónimo, o problema do governo pode ser
adiado para os longínquos “amanhãs que cantam”. Se se realizassem eleições antecipadas
e se o PCP saísse delas com mais 4 ou 5 deputados, isso seria suficiente para poder
cantar vitória. E o Bloco, incapaz de se decidir por uma aliança preferencial com
o PS ou com o PCP, continua a bater-se, sem glória, pela quadratura do círculo.
Tudo na mesma,
portanto. Os vários partidos da esquerda não se reuniram na Aula Magna para construir
uma alternativa sobre aquilo que os poderia unir – a crítica das políticas de austeridade,
a defesa do Estado social, a recusa da privatização de empresas públicas lucrativas
ou prestadoras de serviços sociais básicos – mas apenas para marcar, mais uma
vez, o seu próprio território.
Ontem,
realizaram-se várias manifestações promovidas pelo movimento “Que se lixe a
troika!”. Pouco participadas. Não, com certeza, porque os portugueses estejam
conformados com a sua triste sorte, mas porque sabem que o tempo do protesto
tem de dar lugar ao tempo da criação de uma alternativa. Precisamente, aquilo que
podia ter começado a nascer na Aula Magna…
O que fazer,
quando os anseios mais legítimos do “povo de esquerda” não encontram uma resposta
na estratégia dos partidos que dizem representá-lo?
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