domingo, 2 de junho de 2013



A oeste, nada de novo


Como se sabe, as últimas previsões da OCDE anunciam uma recessão mais grave do que aquela que o governo previa e, consequentemente, um agravamento do défice superior ao esperado. O governo desvaloriza-as mas, pelo sim pelo não, ensaia uma mudança de discurso e Vítor Gaspar diz-nos que chegou “a hora do investimento”. Entretanto, o Orçamento Rectificativo que vai ser apresentado na AR na próxima semana promete despedimentos e cortes salariais na função púbica, cortes nas pensões pagas pela CGA e cortes nos subsídios de desemprego. Ou seja, mais medidas de austeridade com um inevitável efeito recessivo. Mais desemprego, mais pobreza. Enfim, encerram-se mais postos dos Correios, perante a revolta das populações afectadas, mas tornando-os ainda mais apetecíveis para aqueles que se preparam para a sua privatização.

Entretanto, sob o patrocínio de Mário Soares, as esquerdas reuniram-se na Aula Magna para exigir o fim da austeridade. Podia ser um passo importante para a criação de uma alternativa ao governo PSD/CDS. Mas não foi. As ausências de António José Seguro e de Jerónimo de Sousa só podem ser interpretadas como um sinal de distanciamento do PS e do PCP e o maior empenhamento do Bloco não se traduziu num discurso que denotasse a vontade de ultrapassar velhos bloqueios.

Seguro não acredita na viabilidade de um governo das esquerdas e prefere apostar numa muito improvável maioria absoluta do PS ou numa aliança do seu partido com o CDS, que apenas nos traria mais do mesmo. Para Jerónimo, o problema do governo pode ser adiado para os longínquos “amanhãs que cantam”. Se se realizassem eleições antecipadas e se o PCP saísse delas com mais 4 ou 5 deputados, isso seria suficiente para poder cantar vitória. E o Bloco, incapaz de se decidir por uma aliança preferencial com o PS ou com o PCP, continua a bater-se, sem glória, pela quadratura do círculo.

Tudo na mesma, portanto. Os vários partidos da esquerda não se reuniram na Aula Magna para construir uma alternativa sobre aquilo que os poderia unir – a crítica das políticas de austeridade, a defesa do Estado social, a recusa da privatização de empresas públicas lucrativas ou prestadoras de serviços sociais básicos – mas apenas para marcar, mais uma vez, o seu próprio território.

Ontem, realizaram-se várias manifestações promovidas pelo movimento “Que se lixe a troika!”. Pouco participadas. Não, com certeza, porque os portugueses estejam conformados com a sua triste sorte, mas porque sabem que o tempo do protesto tem de dar lugar ao tempo da criação de uma alternativa. Precisamente, aquilo que podia ter começado a nascer na Aula Magna…

O que fazer, quando os anseios mais legítimos do “povo de esquerda” não encontram uma resposta na estratégia dos partidos que dizem representá-lo?

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