quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Algumas linhas sobre a rábula das “moções de censura” e o futuro das esquerdas em Portugal


Tanto o PSD como o PCP, vieram ameaçar derrubar o governo com uma moção de censura e, nos últimos dias, a comunicação social fez disso notícia de 1º página. São jogadas políticas que têm como alvo um eleitorado descontente, querem ver-se reflectidas nas sondagens, mas não terão consequências nenhumas onde importaria que as tivessem, no Parlamento.

É claro que, do ponto de vista do PCP (e do BE) não faltam razões para censurar o governo. Para os partidos á esquerda do PS, a questão central da crise que vivemos é o desemprego e é evidente que a política de Sócrates, telecomandada de Bruxelas, só pode agravar essa situação. Simplesmente, eleições antecipadas traduzir-se-iam, provavelmente, numa maioria parlamentar PSD/CDS. E a questão que se coloca é a de saber se o PCP está na disposição de dar o seu contributo para essa “solução”. Concretamente, o PCP votaria a favor de uma moção de censura apresentada pelo PSD? Custa-me a acreditar.

Do ponto de vista do PSD (e do CDS), o problema central da crise é o défice orçamental. E, nesta matéria, colocam-se duas hipóteses: O governo vai conseguir ou não atingir as metas fixadas pelo último PEC para 2011? Se houver indicações de que isso não vai ser possível, então o PSD tem aí um pretexto óptimo para censurar o governo. Mas se acontecer o contrário, será que o PSD vai esperar para ver o PS colher os louros da “vitória”? Parece-me que qualquer sucesso do governo vai despertar na direita o receio de ter perdido o comboio… Em qualquer dos casos, uma moção de censura lá para Maio, viria mesmo a calhar. Mas votará o PSD uma moção apresentada pelo PCP?

O PSD (tal como o PS) alimenta-se do Poder e não perdoará a Passos Coelho se este deixar passar esta oportunidade… O PCP alimenta-se de campanhas eleitorais. Servem para reunir as tropas, animar as hostes e, já agora, ajustar contas antigas com o BE. Uns e outros sonham com eleições antecipadas e ambos antecipam vitórias: Regressar ao governo (ainda que seja para, no fundamental, continuar as mesmas políticas)! Eleger mais dois ou três deputados, regressar ao terceiro (ou até ao quarto...) lugar do pódio eleitoral (mesmo que o próximo governo disponha do apoio de uma maioria absoluta PSD/CDS)! Que sonhos magníficos! Infelizmente, não são os meus.

Não acredito na hipótese das moções de censura, mas também não me parece que o governo consiga aprovar o próximo Orçamento de Estado na AR. Sócrates tem os dias contados e o PS pode preparar-se para uma longa travessia no deserto (os social-democrata franceses, alemães ou italianos, podem contar-lhe como é). Que, pelo menos, isso sirva para repensar os caminhos que a esquerda democrática e o centro-esquerda têm seguido nestes últimos anos.

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