quinta-feira, 30 de julho de 2009

“A esquerda é burra?”

Boaventura de Sousa Santos pública na Visão um artigo que me deixa francamente perplexo.

A pergunta do título foi posta de Fernando Henriques da Silva. A sua resposta: a esquerda brasileira seria, de facto, “burra”, porque não compreendia as virtudes do neoliberalismo e insistia em apoiar a candidatura de um operário ignorante (Lula da Silva, é claro), mal preparado para governar. A esquerda fraccionava-se: a “esquerda burra” (LS) separava-se da “esquerda inteligente” (FHS) e, dividindo-se, nunca chegaria ao poder. Boaventura de Sousa Santos constata o que é óbvio: o anterior presidente do Brasil enganou-se em toda a linha.

Ainda assim, retoma a pergunta de Fernando Henriques da Silva: se a esquerda portuguesa se dividir não estará a ser burra, ao facilitar o acesso da direita ao poder?

O raciocínio que desenvolve a seguir é extraordinário. Pode resumir-se assim:

1) O eleitorado português vota à esquerda.
2) O PS (a “esquerda inteligente”?), quando governa, governa à direita.
3) Logo, a esquerda à esquerda do PS (a “esquerda burra”?) deve apoiá-lo para que a direita não possa governar.

Parece-me que o que se deveria deduzir das duas premissas não pode ser a conclusão proposta. O que importa não é quem executa a política de direita – se o PS, se o PSD. Importa, sim, criar condições para governar à esquerda. E toda a experiência do passado nos diz que essa possibilidade não passa pelo apoio ao PS, mas pelo reforço de uma esquerda crítica da sua prática governativa.

A desistência dessa esquerda em nome da unidade só poderia conduzir à reedição daquilo que já devíamos estar fartos de conhecer e que o próprio BSS assinala: mais um governo “de esquerda” a governar à direita. BSS afirma que isto não pode ser uma fatalidade. Talvez. Mas por que é que havemos de pensar que, se voltarmos a insistir no mesmo, desta vez os resultados hão-de ser completamente diferentes?
Francisco Louçã
em grande forma - 1

AINDA A
“GRANDE ENTREVISTA”
A JUDITE DE SOUSA

Ainda antes de escrever sobre o que ouvi, umas quantas palavras sobre o que vi. Vi um Louçã em grande forma, física e anímica, ao seu melhor nível. Todos conhecemos a exigente agenda eleitoral com que nos deparamos, é também conhecida a grande dependência que o BE ainda tem do seu Secretário Geral pelo que constatar isto não é pouca coisa.

Vamos agora ao que ouvi. Sem desmerecer a impiedosa critica aos actos deste governo (o Novo Código de Trabalho, o negócio com a Liscont, a privatização da Galp “a José Eduardo dos Santos e Américo Amorim", etc, etc…), até porque é merecida, prefiro passar directamente para a parte que me pareceu mais interessante: a de construir à esquerda para (re)construir uma alternativa para o país.

Decorre do que ouvi que o crescimento exponencial de votos para o BE, para além de não ser de circunstância, transforma-o no principal partido de esquerda na oposição. Ouvi-o considerar uma cisão no PS que aumentaria a esquerda à esquerda do PS, capaz de, junto com o BE, formar a Grande Esquerda. Capaz de fazer nascer o maior partido de esquerda do país, capaz de ganhar o país, para o governar. Capaz de ser governo.

Ouvi-o dizer que respeitava Manuel Alegre. Mas a saída próxima de Manuel Alegre do Parlamento Nacional, por si só, não serve como indicador, servindo, de forma diferente duas hipóteses: a continuação do status quo ou o abraçar dessa Esquerda Grande que referi acima. Uma certeza no entanto, a segunda só se verifica com Manuel Alegre.

O Cruz Mendes considera uma terceira hipótese: “a de uma transfiguração radical do PS, com a eleição de uma nova direcção, a adopção de uma nova linha política e a sua libertação da teia de interesses e compromissos onde se encontra enredado”. Francamente não a considero sequer teórica. Tal cenário só é possível, mesmo em teoria, pós-eleições legislativas, e decorrendo de uma derrota estrondosa do PS, o que em nada influência as contas pré-eleições. Estes meses próximos, de per si, serão pesados o suficiente, não precisam de mais carga.

Resta ao PS, ganhando, governar mais à esquerda, não de mote próprio certamente, mas forçado por uma maioria à sua esquerda ou assumir-se à direita governando com acordos pontuais, ou não.

O país nada ganhará se das próximas legislativas sair um governo PSD com ou sem PP. É um dilema nada simples, de facto, mas cuja respostas parece-me evidente. Aliás já ensaiada, nomeadamente, nesta entrevista de F. Louçã. É preciso pôr em evidência que entre o PS de Sócrates e o PSD de Manuela Ferreira Leite não há uma diferença no modelo de desenvolvimento que preconizam. Nem mesmo nos apoios sociais que o estado poderá dispor para ajudar a ultrapassar esta crise. No PS, o acordar agora para o óbvio, cheira a nafetalina, de tão recente saída do fundo do baú, no PSD as promessas do Portugal de Verdade certamente passarão por aqui. O PS e o PSD não se constituem como uma verdadeira alternativa, mas antes, como uma alternância a que importa pôr cobro.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Navegando pela net…

Neste Blogue, optamos por ignorar as atoardas que, periodicamente, Alberto João Jardim, vai fazendo chegar à comunicação social. Contudo, um post de João Marques (ver http://avenidacentral.blogspot.com) sobre a sua proposta de proibição das ideologias totalitárias, “Avenida Liberal – O paralelo 46º/4”, fez-me enviar para lá um breve comentário. Sem sair de um tema que lhe é caro, o das causas LGBT, Bruno Maia faz uma série de “Perguntas a Miguel Vale de Almeida” que são em tudo pertinentes (ver Esquerda.net). Estará ele, que já publicou uma série de postas a justificar a sua decisão de integrar o próximo grupo parlamentar do PS, interessado em responder-lhe?Vítor Dias confronta Miguel Vale de Almeida com as suas críticas à deriva neoliberal do PS (ver http://tempodascerejas.blogspot.com). Quando questões como o Código do Trabalho forem discutidas na Assembleia da República, qual vai ser a posição de MVA? Ainda que se demarque da orientação do grupo parlamentar que vai integrar, já terá dado o seu contributo para a formação da eventual maioria que vai defender tudo aquilo que ele nos últimos anos criticou. Rui Tavares publicou o texto “Quinze anos” na sua coluna do Público (ver http://ruiavares.net/blog) acerca da inflexão “esquerdista” do discurso oficial do PS, de Guterres para Sócrates, mostrando que ela só pode ser entendida como uma resposta à perda de votos do PS para a sua esquerda e, nomeadamente, para o Bloco. Evidentemente, não existem quaisquer garantias que o tom do discurso se traduza numa revisão das suas políticas. Pelo contrário, não é nesse sentido que aponta o balanço que o PS faz dos seus últimos quatro anos de governação. Mas aqueles que gostam de se deixar levar pelo canto das sereias socráticas, não poderão deixar de reconhecer as virtudes dos 10% de votos no BE para o Parlamento Europeu na selecção de tão belas melodias. Afinal, onde está o “voto útil”?

terça-feira, 28 de julho de 2009

Arte e política – na morte da Merce Cunningham


Marcel Duchamp, John Cage, Merce Cunningham, Robert Rauschenberg, George Maciunas, Allan Kaprow… Um mapa para uma viagem pela arte contemporânea

Merce Cunningham, um dos mais notáveis e influentes coreógrafos contemporâneos, morreu no dia passado dia 26, em Nova Iorque.


Recordo a presença da Merce Cunningham Dance Company no Porto 2001: três espectáculos no Rivoli com a sala sempre esgotada. Fernando Ribeiro recorda uma outra actuação no Cine Teatro Vale Formoso “nos longínquos anos 60”. (Hoje, o Rivoli está nas mãos do Filipe La Feria e, no Vale Formoso, os pastores da IURD fazem milagres e exorcismos todas as semanas…) E chamo a atenção dos internautas mais desatentos para os vídeos presentes no You Tube, aliás divulgados por Fernando Ribeiro no seu blogue A Matéria do Tempo.

Muitas vezes, a importância de Merce Cunningham para a dança contemporânea tem sido equiparada à de Marcel Duchamp para as artes plásticas ou à de John Cage para a música. De Marcel Duchamp, todos conhecem os seus redy mades, objectos vulgares instituídos como obras de arte por decisão do artista. De John Cage, muitos terão presente 4’ e 33’’, uma peça musical onde alguém se senta ao piano e permanece imóvel durante aquele período de tempo. (Há também uma versão para orquestra.) Por vezes, leio que a “matéria” da peça é o silêncio. Não me parece. Durante os 4 minutos e 33 segundos, a assistência não consegue manter-se em silêncio absoluto: as pessoas mexem-se nas cadeiras, sussurram, tossem, etc. Ora bem, esses ruídos são a própria peça.

Esta “transfiguração do banal” (Arthur Danto) em obra de arte, estabelece uma relação evidente entre aqueles dois artistas. Jonh Cage fundou com Merce Cunningham a Merce Cunningham Dance Company em 1953 e foi o autor do ambiente musical de muitas das suas coreografias. Unia-os o propósito de explorar o lado puramente aleatório da criação artística. Se Cage compunha peças das quais podiam fazer parte todo o tipo de ruídos imprevistos, Cunningham criava coreografias que não obedeciam a uma lógica de movimentos e gestos definitivamente fixada, mas apenas a indicações de deslocações e tempos que deixavam uma grande margem de liberdade aos seus intérpretes e faziam de cada espectáculo uma ocasião única.

Com a Merce Cunningham Dance Company, colaborou também Robert Rauschenberg, de quem, no ano passado, pudemos ver uma magnífica exposição em Serralves. No seu catálogo, João Fernandes chama a nossa atenção para a sua importância “na desconstrução do ensimesmamento e da autonomia com que o expressionismo abstracto do pós-guerra tinham isolado a arte da vida”. Rauschenberg rejeita a identificação da arte com as possibilidades oferecidas pela exploração de um meio específico, defendida por Clement Greenberg, recupera a tradição dadaísta do “objecto encontrado”, experimenta os novos caminhos que lhe são oferecidos pela colagem, pela assemblage e pelas artes performativas e encontra-se naturalmente com Merce Cunnigham e John Cage.

Finalmente, Cage relacionou-se com o movimento Fluxus, criado nos anos 60 por George Maciunas, que pretendia vencer a distância que separava a arte da vida como forma de “purgar o mundo da vida burguesa” e “promover a realidade da não-arte para que ela pudesse ser desfrutada por todos… Dissolver as estruturas das revoluções, cultural, social e política numa frente comum, com acções comuns”. “Fluxus” funda-se precisamente na ideia do fluxo de criação e destruição, que é a corrente da arte e da própria vida.

Entre os vários artistas que participaram do movimento Fluxus, gostaria de destacar Allan Kaprow, muitas vezes designado como o “inventor” do happening, termo que designa um evento colectivo, onde, num quadro temporal e espacial dado se desenrola uma acção teatral minimamente programada. A participação do público introduz no acontecimento o elemento de imprevisibilidade que o define.

O mapa que me propus desenhar fica assim esboçado. Pelo caminho, vimos a Arte ser derrubada do seu pedestal. Objectos comuns passaram a ser objectos artísticos, ruídos transformaram-se em música, a inspiração artística confundiu-se com os resultados do acaso e pessoas vulgares tornaram-se sujeitos de actos criadores… A arte confunde-se com a vida. Serão estes caminhos, percursos da luta contra a alienação capitalista?

A questão fica de pé. Entretanto, quem quiser usar o meu mapa, terá de partir à procura dos exemplos que o ilustram.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Livros para férias

Aproximam-se as férias e tenho de começar a pensar naquilo que vou meter dentro da mala. Por exemplo, que livros vou levar? Não tenho ainda a lista definitiva, mas alguns têm já um lugar assegurado. Para quem possa interessar:

Ryszard Kapuscinsky, O Outro. Porto: Campo das Letras, 2009.
Lê-se na contracapa: “Neste livro reúnem-se seis pequenas conferências sobre o Outro, onde Kapuscinsky procura compreender o que é ser europeu ou não-europeu, colono ou colonizado, branco ou negro. Numa viagem pela filosofia, pela história e pela antropologia, o autor evidencia uma visão do mundo idealista e pragmática, defendendo que numa época em que a humanidade se transforma rapidamente numa sociedade global, não é mais possível ignorar que, para o Outro, nós também somos Outros”.
Quem conheça essa obra excepcional que é Andanças com Heródoto, não se espantará nada com o lugar destacado que este pequeno livro de Kapuscinsky ocupa na minha selecção.

Jan Morris, Veneza. Lisboa: Tinta da China, 2009.
Na contracapa: “Este livro é um clássico, muitas vezes referido como o livro sobre Veneza. Nele, Jan Morris entrelaça o H da História com um apuradíssimo sentido de observação para o h pequeno das histórias do quotidiano.
Conheço Veneza e nunca li nada de Jan Morris, de quem sei apenas aquilo que os jornais têm dito recentemente. A curiosidade não pode ser maior.

Três livros hão-de chegar, mas o terceiro lugar do pódio ainda não está ocupado. Eis mais dois candidatos (em 28-7-09, acrecentei mais um: agora são três):

Esther Leslie, Walter Benjamin. Lisboa: Fio da Palavra, 2009.
Harry Shutt, O Declínio do Capitalismo. Poderá um Sistema de Lucros Auto-Regulado Sobreviver? Cascais: Sururu, 2008.
Eduardo Lourenço, A Esquerda na Encruzilhada ou Fora da História? Lisboa: Gradiva, 2009.

Como vou para Moledo, será inevitável ir a Vigo, à Casa del Libro, à procura de novidades irrecusáveis. Nunca de lá saí de mãos vazias…

Finalmente, há que reservar tempo e lugar para os jornais e blogues habituais. (Não esquecer o indispensável Le Monde Diplomatique, edição portuguesa.)

domingo, 26 de julho de 2009

Compram-se apoios. Bons preços!
Contactar José Sócrates, residência oficial do primeiro-ministro, S. Bento, Lisboa

Em Braga, nas últimas eleições autárquicas, um candidato à presidência da Junta de freguesia de Maximinos promoveu uma distribuição de chouriços aos seus eventuais eleitores.

Em Gondomar, há oito anos, Valentim Loureiro, candidato à presidência da Câmara, fez o mesmo com electrodomésticos.

Soube-se agora que José Sócrates foi muito mais longe. O primeiro-ministro ofereceu, primeiro, o 2º lugar da lista do PS por Coimbra e, depois, a chefia do Instituto da Droga e da Toxicodependência a Joana Amaral Dias em troca do seu apoio nas próximas legislativas.

No entanto, nem todas as consciências estão à venda. Ouviu uma nega da Joana e, ainda por cima, a sua generosa oferta foi tornada pública. Um azar nunca vem só!

Adenda: depois de publicado este post, ouvi na televisão os desmentidos de José Sócrates e de Vieira da Silva. É claro que não acredito que tenham contactado pessoalmente a Joana Amaral Dias. Assim como não acredito que quem o fez não estivesse superiormente autorizado para o efeito.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Francisco Louçã na “Grande Entrevista”de Judite de Sousa

Destaco dois aspectos da entrevista de Louçã: o primeiro, uma crítica impiedosa à política prosseguida pelo governo de José Sócrates, do novo Código de Trabalho aos negócios com a Liscont, passando pela entrega de 1/3 da Galp a José Eduardo dos Santos e a Américo Amorim; o segundo, a vontade manifestada de contribuir para a formação de um governo de esquerda que se afirme como uma alternativa ao rotativismo do PS e do PSD ao centro.

Não tenho quaisquer reservas acerca das críticas que dirigiu ao PS: são justas e necessárias. Quanto à possibilidade de uma alternativa de esquerda, embora não o explicite, deduz-se das suas afirmações que elas implicam a possibilidade de realização de uma das duas seguintes hipóteses:

1ª Hipótese: a de uma transferência maciça de votos do PS para o BE, algo que daria ao Bloco, se não uma maioria parlamentar, pelo menos a posição de partido maioritário da esquerda e, portanto, condições para negociar em situação vantajosa acordos com outros partidos com vista à formação de um governo.

2ª Hipótese: a de uma cisão no PS, com a constituição de um novo partido de esquerda socialista, capaz de, com o BE, formar uma “grande esquerda” com condições para assumir o governo.

Haveria ainda uma 3ª hipótese, puramente teórica, que Francisco Louçã não considera de facto: a de uma transfiguração radical do PS, com a eleição de uma nova direcção, a adopção de uma nova linha política e a sua libertação da teia de interesses e compromissos onde se encontra enredado, como condição para um acordo de governo PS-BE.

Como considero que qualquer uma delas é, pelo menos a curto prazo, altamente improvável, parece-me que o Bloco vai ter que lidar com o PS “realmente existente”, que é mau, mas é o que temos. E se isso elimina a hipótese de uma aliança onde teríamos de abdicar do nosso programa, não nos impede de admitir que, com o fim da maioria absoluta, possam surgir possibilidades acrescidas para o estabelecimento de acordos pontuais.

É claro que ninguém pode descartar a possibilidade do PS preferir, como já o fez no passado, acordos com a direita. Contudo, a possibilidade do BE congregar maiorias parlamentares susceptíveis de fazer aprovar na AR medidas positivas, fica definitivamente excluída se existir uma maioria PSD-CDS.

Portanto, uma atitude do tipo “entre o PS e o PSD, venha o diabo e escolha” pode render ganhos eleitorais sem trazer ganhos significativos em termos de benefícios sociais concretos.

Assim, o Bloco vê-se numa situação particularmente delicada. Só pode crescer à custa do PS e, portanto, tem de continuar a criticá-lo. (O que, aliás, não é difícil, sobretudo se não permitirmos que o actual chorrilho de promessas eleitorais nos faça esquecer as malfeitorias dos últimos quatros anos de governo.) Mas não ganhará nada se o enfraquecimento do PS se traduzir numa vitória do PSD.

Não há uma saída simples para este dilema. Apenas posso dizer que a crítica do governo de José Sócrates se tem de fazer acompanhar por uma crítica não menos impiedosa das “soluções” alternativas propostas por Manuela Ferreira Leite. E desejar que, das próximas eleições, saia uma maioria PS-BE-CDU, com um PS minoritário e uma representação parlamentar do Bloco significativamente fortalecida. O próximo governo terá, então, que prestar contas aos deputados que forem eleitos pelo “povo de esquerda”. E a nós, eleitores, competir-nos-á julgá-los, depois, pelas opções que fizerem.

quinta-feira, 23 de julho de 2009


A ESQUERDA, A UTOPIA E O HOMEM...

É com alegria que leio que as ideias da esquerda sempre pareceram amigas da utopia, e se baseiam na fé. A motivação religiosa já me parece deslocada.
Para além de me definir como homem de esquerda, defino-me também como socialista. Não como socialista de esquerda, por oposição ao socialismo de centro, mas como socialista. Não vejo como é possível ser socialista sem se ser de esquerda. Da mesma forma que não vejo como é possível ser-se uma coisa ou outra sem se acreditar, antes de tudo o resto, no homem.
Se calhar esta é a maior de todas as utopias: a crença inabalável no homem. O homem, um “bicho” social, simultaneamente criatura e criador. Com isto afasto-me tanto das ideias determinalistas que nos transformam em meros “actores” num enredo pré determinado, quanto das que nos vitimizam atirando as culpas para uma sociedade que não está preparada para nos receber. A ideia de criatura é herdeira das influências genéticas e, principalmente, culturais e ambientais, enquanto a de criador leva-nos ao conceito de livre arbítrio, capaz de nos refazer enquanto indivíduos, e capaz de influenciar o colectivo tanto quanto o colectivo os influência. Nesta medida a crença na utopia não pode ser senão o motor… nunca prozac.
(PS – refiro às ideias da esquerda sem o adjectivo revolucionária. Não sei bem qual o sentido atribuido, sendo certo que isso daria “panos para mangas”.
Contudo não resisto à tentação de acrescentar: agrada-me a constatação de que revolucionárias são as ideias, pelo que são estas que fazem as revoluções e não o poder bélico que por vezes lhes estão associadas.
Quando ao ser socialista, bem, se a ideia da esquerda revolucionária dá “panos para mangas”, o que dizer do conceito do socialismo ou do que é ser-se socialista?).


“Ora, caro amigo, nada disto envolve qualquer risco nem sacrifício de maior na sociedade em que vivemos; é uma luta sem guerra”.
Não podia estar mais em desacordo.
Hoje, como sempre, acreditar em minoria acarreta sempre riscos e sacrifícios pessoais e, frequentemente, familiares (o contacto que se perde com um pai, uma mãe, um filho… um divórcio). É um emprego ou uma progressão na carreira que se perde, um salário que teima em não aumentar, é um amigo que não percebe que não podemos dar um jeito porque o que pede vai contra aquilo por que nos batemos diariamente, etc, etc… Neste contexto não me agrada o termo guerra, mas que é uma luta…
Porque todos queremos a paz e a felicidade para os nossos filhos, hoje.
Obviamente, isto não nos transforma em mártires, antes em “formigas”, ora de Esopo ora de Zeca Afonso, frequentemente em ambas simultaneamente.
E é claro que os maiores inimigos dos ideais, ou das causas, ou das utopias são os homens. Porque não somos perfeitos, e porque não queremos todos exactamente o mesmo.
(PS – ainda assim é preciso cautela a defender esta ideia: a falha não está nas utopias mas nos homens que as tentaram levar a cabo. Ainda não vai há muito tempo era possível ouvir-se este mesmo raciocínio para defender que o que falhara não fora o comunismo… É que se os homens falham, as utopias são criações do homem).

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A aposta de Pascal e a utopia socialista

Uma breve troca de comentários com o Manuel Cardoso sobre o meu texto acerca de O Zero e o Infinito, mostrou-me que, certamente por culpa minha, ele poderia sugerir uma visão pessimista das utopias revolucionárias e uma atitude conformista perante o “capitalismo real”.

Não era essa a minha intenção e, portanto, gostava de regressar a esse tema. Há, de facto, um problema que o livro de Koestler levanta e que é o da velha questão dos fins e dos meios. O problema das grandes causas é que tendem a justificar os mais horríveis processos. E isso não é um exclusivo das utopias revolucionárias. Veja-se o caso das Cruzadas ou da Inquisição: quantos crimes foram cometidos em nome de um Bem supremo? Mas significa isto que devemos desistir de sonhar?

É aqui que me socorro de Pascal. Afinal o que é que arriscamos ao assumir a nossa Fé, se não podemos viver sem ela, isto é, sem acreditarmos na possibilidade de realização das esperanças sobre as quais fundamos o sentido das nossas vidas? Adaptando o argumento pascaliano da aposta na existência de Deus: ainda que sejam mínimas as possibilidades da Utopia, no caso de apostarmos nessa possibilidade e vencermos, temos tudo a ganhar; no caso dela se verificar errada, não temos nada a perder. Se o capitalismo nos é intolerável, o que é que podemos perder se apostarmos na possibilidade do Socialismo?

Não posso nem quero aconselhar ninguém a desistir das suas ambições políticas mais generosas. (Se assim fosse, o que andaria eu a fazer no Bloco de Esquerda?) Proponho apenas que se inclua entre as nossas mais caras convicções a ideia da falibilidade das nossas propostas. A nossa vida avança segundo um processo inevitável de “tentativa e erro”. A única coisa que posso desejar é que tenhamos a lucidez suficiente para saber reconhecer os nossos erros e a força bastante para encetarmos novas tentativas.
(P.S. Com o meu filho mais velho no acampamento dos jovens do BE e o meu filho mais novo a frequentar um curso de Verão na Universidade de Coimbra, eu e a minha mulher decidimos fazer umas curtas férias de 3 dias. Por isso, até 5ª feira, a minha colaboração no formiga fica suspensa.)
AUTÁRQUICAS 2009
BE BRAGA
APRESENTA CANDIDATURAS
Nos próximos dias a agenda distrital do BE Braga regista várias iniciativas. Apareçam!

Segunda-feira, 20, 18h00 - Apresentação da candidatura autárquica de Amares.

Segunda-feira, 20, 21h30 - Comício em Guimarães, com Francisco Louçã e candidatos autárquicos, no Largo da Oliveira.

Terça-feira, 21, 18h00 - Apresentação da candidatura autárquica de Braga, com Francisco Louçã, Praça António Losa, à Sé.
BE BRAGA DEFENDE
DESTITUIÇÃO DE CARLOS MALAÍNHO

Depois das derrocadas de prédios e do incêndio da lenha da Agere, a impossibilidade dos Bombeiros municipais combaterem eficazmente um incêndio num 13º andar veio confirmar, se fosse necessário, a total falta de habilitações do vereador Carlos Malaínho para o pelouro da Protecção Civil.Nos sucessivos episódios referidos Carlos Malaínho demonstrou sempre não estar tecnicamente informado e não ser capaz de gizar e implementar políticas preventivas. Também desta feita Malaínho vem dizer que o problema da auto-escada dos Bombeiros Sapadores vai ser resolvido já para a semana, escamoteando o facto de o equipamento ter uma dúzia de anos e de, portanto, ter existido tempo mais do que suficiente para planificar e executar as necessárias operações de manutenção e reparação.

João Delgado, candidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Braga, considera que, “face ao que tem acontecido nos últimos anos com os descontrolados fogos de Verão no concelho, e verificando-se que o vereador não detém competências para coordenar a Protecção Civil municipal, é urgente que o presidente da Câmara assuma as responsabilidades da segurança dos bracarenses até ao final do mandato, sob pena de, não o fazendo, ser objectivamente conivente com a notória irresponsabilidade do seu vereador”.

Assim, o candidato do Bloco defende que Mesquita Machado deve de imediato retirar a Carlos Malaínho o pelouro da Protecção Civil, que passará para responsabilidade directa do presidente da Câmara.

domingo, 19 de julho de 2009

Livros – apontamentos à margem (11)

Proposta de (re)leitura de O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler, à luz do “Livro de Job”

Job era um homem crente e bom. Jeová tinha-o como exemplo. Como seria melhor a humanidade se todos os homens fossem como ele! Mas Satã apresentou a Deus as suas dúvidas: Job era rico, saudável, tinha uma bela família, amigos fiéis e criados dedicados. Como não haveria de estar agradecido a Deus por tantas benesses? Mas, e se Deus lhe retirasse tudo isso? Não seria por ele renegado? E Deus aceitou o desafio e, retirando-lhe todos os seus bens e condenando-o a uma vida de sofrimentos horríveis, pôs à prova a sua Fé. A mulher de Job, reconhecendo a injustiça inaceitável presente na vontade de Jeová, aconselhou-o: “Amaldiçoa-O e morre”. Mas Job permaneceu, apesar de tudo, fiel ao seu Deus.

Rubachov (a personagem principal do romance de Koestler) tinha sido um dirigente altamente responsável. Toda a sua vida foi consagrada à causa do Partido, da Revolução e do Socialismo. Mas, a dada altura, “caiu em desgraça”. Por ordem do Chefe Supremo, do “Nº 1”, foi afastado de cargos dirigentes e, finalmente, preso, humilhado, caluniado junto dos seus antigos camaradas e do povo. Foi apontado como um traidor: devia ser levado a julgamento e condenado à morte. Percebe-se que estamos nos anos 30, no tempo dos Processos de Moscovo. Entretanto, as sociedades capitalistas afundavam-se na maior crise económica de sempre, o Fascismo e o Nazismo tomavam o Poder em Itália e na Alemanha. Adivinhava-se a guerra. E os povos voltavam os seus olhos para a União Soviética, que procurava sair do atraso secular que sobre ela se abatia desde os primórdios do Império czarista, através dos enormes sacrifícios exigidos pela rápida industrialização. Nela residia a esperança dos povos no Socialismo, numa alternativa possível ao capitalismo que tão cruelmente os fustigava.

O que poderia fazer Rubachov quando fosse julgado? Defender a sua inocência, mostrar ao mundo a iniquidade do regime pelo qual tantos tinham lutado e morrido e, com isso, retirar aos povos a esperança num mundo melhor? Dar razão àqueles que consideravam o socialismo uma utopia irrealizável e, portanto, a exploração, a miséria e a guerra, uma fatalidade?

Aquilo por que sempre tinha vivido e lutado exigia-lhe um último sacrifício. E Rubachov, para se manter fiel à sua causa, confessou os seus “crimes” e foi executado.

Tal como Job se submeteu à vontade de Jeová, Rubachov vergou-se às acusações do Tribunal que o “julgou” e aceitou a sua sentença.

Estas duas histórias, a de Job e a de Rubachov, sempre me fascinaram. Conhecê-las melhor remete-nos, obrigatoriamente, para a leitura da Bíblia e de Arthur Koestler, O Zero e o Infinito. Lisboa: Publicações Europa-América, s/d. Mas,depois, pode conduzir-nos a muitas análises e especulações.

Cito apenas leituras recentes: Sobre o “Livro de Job” e os problemas de ordem ética e religiosa que a sua leitura nos coloca, veja-se, por exemplo, James Rachels, Problemas de Filosofia, Lisboa: Gradiva, 2009. Sobre O Zero e o Infinito, Arthur Koestler e a sua peculiar interpretação das “confissões” arrancadas a velhos revolucionários comunistas durante os Processos de Moscovo, pode ler-se Tony Judt, O Século XX Esquecido. Lisboa: Edições 70, 2009. Bom proveito!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Arte e politica
VARIAÇÕES SOBRE O TEMA A FONTE



As imagens reproduzem uma pintura de Ingres (A fonte, 1856), um ready made de Marcel Duchamp (A fonte, 1917), a fotografia de uma acção de Bruce Nauman (Auto-retrato como fonte, 1966-67) e uma outra de um vídeo do mesmo artista (Fonte assombrosa - português, 1998). Este último, pode ser visto na exposição “Serralves 2009 – a Colecção”, que decorre no Porto.

É do folheto aí distribuído aos visitantes que transcrevo este texto: "Em Self-portrait as a Fountain (...), Bruce Nauman retratava-se em tronco nu, com um repuxo de água a jorrar-lhe da boca. No trabalho agora apresentado – Amazing Fountain (Portuguese) (...), lê-se num ecrã e simultaneamente ouve-se a frase 'O verdadeiro artista é uma maravilhosa fonte luminosa'. Nauman recorre mais uma vez ao motivo da 'fonte', mantendo a ambiguidade dos sentidos: por um lado, sugere a ideia de pureza, de origem das coisas, associada ao poder criador do artista; por outro, detectamos a ironia com que aborda a tradição da escultura e o mito da genialidade do artista”.


Tudo bem. Mas porquê “arte e política”? Para evitar repetir-me, remeto os meus leitores para um outro texto publicado em http://aformigadeesopo.blogspot.com/2009/07/algumas-ideias-sobre-arte-e-politica-em.html.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Autárquicas – Lisboa

Helena Roseta na lista de António Costa



António Costa conseguiu o apoio de José Sá Fernandes e de Helena Roseta, que sugirão em lugar destacado na sua lista. O movimento Cidadãos Por Lisboa (CPL), reunido em torno de Helena Roseta, deverá eleger ainda mais um vereador. Possivelmente, Fernando Nunes da Silva. Numa Câmara presidida por António Costa, poderão ser vereadores um ex-aderente do BE (que, ainda antes da sua fundação, foi candidato à CML numa coligação PSR-PXXI), um independente que já foi eleito vereador por duas vezes nas listas do Bloco e uma independente com quem o Bloco quis coligar-se mas que rejeitou essa proposta. Pelo menos, os dois últimos terão pelouros próprios. Todos têm provas dadas em defesa de Lisboa. E, com eles, levam outros apoios. Por exemplo, o de Gonçalo Ribeiro Teles e o de vários aderentes da Refundação Comunista. Ou, ainda, os de José Saramago, de Carlos do Carmo ou de Camané. Nos termos do acordo, o CPL não se dissolve no seio do PS, mas conserva a sua autonomia, comprometendo-se, no entanto, a votar com o PS o orçamento camarário.

Apesar de ter dado um grande passo em frente, é claro que a vitória de António Costa não fica desde já garantida. Ainda precisa de derrotar Santana Lopes, que também recebeu boas notícias: Carmona Rodrigues não se vai candidatar. Ou seja, a direita vai apresentar-se unida, enquanto à esquerda se mantêm as candidaturas de Ruben de Carvalho e Luís Fazenda.

Não conheço suficientemente bem Lisboa para me permitir adoptar posições peremptórias nesta matéria. Mas há dúvidas que não posso deixar de pôr a mim próprio: Nas circunstâncias actuais, seria completamente impossível definir um programa autárquico onde toda a esquerda se pudesse reconhecer? Ou, pura e simplesmente, nem o PCP nem o BE estiveram interessados em estudar essa possibilidade, porque decidiram subordinar a política autárquica à lógica das legislativas? E, se assim foi, como vão reagir os cidadãos de Lisboa preocupados com o futuro da sua cidade?

quarta-feira, 15 de julho de 2009


TERÇA-FEIRA, DIA 21 PELAS 18 HORAS
LOUÇÃ EM BRAGA


Francisco Louçã estará na apresentação da candidatura autárquica do BE no concelho de Braga, na próxima terça-feira, dia 21, a partir das 18 horas, na Praça António Losa, à Sé.

Recorde-se que João Delgado é o candidato à Câmara, António Lima à Assembleia Municipal, e Manuel Sarmento o mandatário.
BE BRAGA
NA INTERNET

A candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Braga está presente em vários espaços das redes sociais da Internet.

A “necessidade de interacção com muitas pessoas que estão afastadas dos lugares físicos da política, mas que nem por isso manifestam desinteresse pela coisa pública” justificam a aposta.

Além do Twitter (http://twitter.com/joaodelgado), MySpace (http://www.myspace.com/joaodelgado) e Facebook, a candidatura mantém um blog com comentários abertos, que pode ser visitado em http://blocobraga2009.blogspot.com/.
SÓCRATES E A
TEMPESTADE PERFEITA
Perfeita, perfeita... perfeita até demais.
Não (se) percam.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

“É urgente acordar”


Retomo o título do artigo de Manuel Alegre no Expresso (11-2-09) e começo por citar o primeiro parágrafo:

“Em nenhum outro país europeu a esquerda é eleitoralmente tão forte como em Portugal. Mas essa força não serve para grande coisa. Sobretudo não serve para governar, seja em coligação seja através de acordos pontuais. Em caso de maioria relativa do maior partido de esquerda, a governabilidade só é garantida à direita, quer através do bloco central quer com o apoio do CDS. Nem o PCP e o BE estão disponíveis nem o PS quer governar com qualquer deles. As nossas esquerdas parecem ter como desígnio principal excluírem-se umas às outras. É uma das originalidades portuguesas.”

Num plano meramente descritivo, não há nada a objectar. Tudo aquilo que Manuel Alegre diz é um facto repetidamente confirmado.

Uma primeira questão: Porquê? Em primeiro lugar, existem razões históricas. O PS, no plano organizativo, era um partido muito incipiente antes do 25 de Abril. Cresceu durante o PREC, no quadro da luta pela afirmação de uma democracia de tipo ocidental, tendo como inimigo principal o PCP. Por outro lado, os comunistas e a extrema-esquerda viram sempre no PS um inimigo obstinado da revolução. As feridas então abertas ainda não estão totalmente cicatrizadas e, apesar das circunstâncias serem hoje muito diferentes, continuam a existir divergências políticas e ideológicas a dividir as diferentes esquerdas em Portugal.

Em face da crise da social-democracia e da falência do “socialismo real” seria possível pensar que tinha chegado a hora de submeter o passado à crítica e de procurar convergências e projectos comuns. Não tem sido assim. Por um lado, pela recusa do PCP em abandonar velhas ortodoxias e por uma cultura de contra-poder ainda dominante no BE. Por outro, pela deriva centrista do PS, cuja estratégia passa por garantir maiorias parlamentares pela disputa do espaço tradicionalmente ocupado pelo PSD.

Uma segunda questão: Que fazer? Não haverá maiorias de esquerda sem o apoio do “povo de esquerda” e este encontra-se, maioritariamente, na base eleitoral do PS. Trata-se de uma esquerda popular, democrática e reformista. Quem pretenda governar em seu nome não pode alimentar quaisquer dúvidas a este respeito nem alimentar ambiguidades acerca dos seus próprios propósitos.

Por outro lado, tem vindo a crescer a distância entre o PS e a sua base eleitoral. É que o PS não é, para adoptar a classificação de Maurice Duverger, um partido de massas, mas um partido de quadros. O PS é sobretudo “aparelho”. E o aparelho desenvolveu interesses próprios que acabam por determinar toda a intervenção do partido. O que o aparelho quer é Poder e, para lá chegar, vale tudo: promessas eleitorais que se traduzam em votos, mas não necessariamente em práticas governativas e, inclusive, o próprio sacrifício dos valores que justificariam a definição do PS como “partido de esquerda”.

É claro que há entre os militantes do PS muitas pessoas de esquerda, mas o seu aparelho não é de esquerda nem de direita, é mais uma agência de emprego e grande parte daqueles que o integram estão disponíveis para tudo aquilo que lhes permita arranjá-lo, conservá-lo ou lhes possibilite progredir na carreira.

Na direcção do aparelho estão aqueles que têm o poder de distribuir os jobs, na sua base, os boys, dispostos a vender a alma ao diabo por um lugarzinho na bancada de deputados, ou na secretaria de um ministério, ou num departamento governamental qualquer (de preferência, perto de casa, se faz favor…), ou numa câmara, ou numa empresa camarária… Enfim, onde houver uma secretária e uma cadeira onde se possam sentar. Estes boys pertencem geralmente a uma pequena-burguesia sedenta de “subir na vida”… Muitos deles são “professores”, adeptos incondicionais desta Ministra da Educação (e, para dizer a verdade, de qualquer outro que lhe suceda). Mas perderem o seu lugarzinho na "administração" e serem obrigados a irem dar aulas para uma escola – isso é que não!

Não é fácil debater política e fazer acordos com pessoas assim. A sua carreira começou a ser construída há muito tempo: na Jota, na Associação de Estudantes, na Junta de Freguesia… E o que demorou tanto tempo a montar vai agora por água abaixo por causa de uma “ideia”?

Manuel Alegre conhecerá melhor do que eu o seu próprio partido. A mim, parece-me que Sócrates lhe vai continuar a dar palmadinhas nas costas à frente das câmaras da televisão, porque pensa que assim angaria mais uns votos. Mas, nas "bases", não hão-de faltar Josés Lellos com vontade de lhe fazer a cama.

Exagero? Estou a ser sectário? Quem me dera estar enganado, mas parece-me que as esquerdas têm ainda um longo caminho a percorrer para se poderem apresentar unidas no apoio a um governo que saiba afirmar-se como uma alternativa socialista.

Não se interprete isto como uma desistência. Todas as caminhadas se iniciam com um primeiro passo e já vários passos foram dados com a fundação do Bloco de Esquerda, com a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, com o comício do Trindade, com o Fórum da Aula Magna… O resultado é incerto, mas ninguém está autorizado a desistir.

sábado, 11 de julho de 2009

Algumas ideias sobre arte e política




Em política, “dizer é fazer” (Austin). Lawrence Weiner, Pearls rolled across the floor, 1994. Não é possível ler sem ver. Então será realmente necessário mostrar as pérolas que rolavam pelo chão?

A leitura da frase sugere-nos imediatamente uma imagem mental, não precisamos de nos apoiar na percepção de uma pintura que a descreva. De facto, a sua ausência libertou-nos, deixamos de estar subjugados pela pintura para passarmos a ser como que co-autores da imagem sugerida pelo artista. A obra de arte passou também a ser “nossa” e, para isso, não foi preciso comprá-la.

O exemplo dos ready made de Marcel Duchamp mostrou que qualquer objecto, independentemente da sua qualidade formal, poderia ser considerado uma obra de arte. Aquilo que interessa não é a sua aparência visual, mas a intenção declarada do artista; não o produto físico de uma acção, mas a própria acção.

Nos anos 60, começa a criticar-se a obra de arte entendida como um objecto único e irrepetível, dotado de uma “aura” (Walter Benjamin) que lhe conferia uma particular valia simbólica. No quadro de uma sociedade capitalista, isso traduzia-se num alto valor mercantil. Critica-se, portanto, a obra de arte como um objecto de luxo burguês. Surgiram, assim, uma série de movimentos que preferiram o happening, a body art ou a land art à pintura e à escultura. Produziram-se obras que não podiam ser conservadas, a não ser sob a forma de memórias, fotografias, filmes ou escritos que documentavam a sua ocorrência. A obra de arte perdeu a sua “aura” na medida em que só podemos possuí-la sob a forma de registos mecanicamente reproduzidos. E, neste sentido, deixou de se afirmar como um objecto de culto (do culto da arte), para se transformar num acto político. Podemos dizer que passamos do conceito de objecto artístico para o de actividade artística, pelo que muitas destas obras cabem na designação genérica de process art.

Num sentido lato, podemos situar a process art no quadro da arte conceptual. Num sentido mais estrito, empregamos esse termo para referir a obra dos artistas que adoptaram uma linha linguística e analítica que se desenvolveu a partir dos anos 60, num contexto anglo-saxónico. A sua referência fundamental é, mais uma vez, Marcel Duchamp. Um vulgar urinol transformou-se numa obra de arte porque o artista o denominou como tal. Duchamp baptizou um objecto vulgar como objecto artístico e isso foi suficiente para que ele se transfigurasse em tal. “Baptizar” é dar um nome e chamar a um urinol Fountain é criar uma obra de arte.

Retirando daí todas as conclusões, surgiram artistas que realizaram obras que não eram mais do que textos escritos. Na medida em que uma obra de arte é aquilo que se apresenta como tal, então cada uma delas é uma definição em acto do conceito de “arte”. E, sendo assim, a sua finalidade será a de explicitar na prática a qualidade desta definição, necessariamente tautológica.

Pearls rolled across the floor é uma resposta a uma questão fundamental: o que é uma obra de arte? Quanto a este pequeno texto, pretende responder a uma outra: por que é que Pearls rolled across the floor resulta dum acto político e é não um simples facto “estético”?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A propósito de uma polémica com o João Delgado

SERÁ QUE EU SOU MESMO UM SOCIAL-DEMOCRATA?


Numa polémica recente com o João Delgado, fui por ele classificado como “social-democrata.” Na minha resposta, apressei-me a recusar essa etiqueta. Contudo, nem por isso deixei de ficar a pensar: será que ele tem razão?

Devo dizer que não considero o termo necessariamente pejorativo. Afinal, nasce da síntese de dois conceitos que me são caros, o de socialismo e o de democracia. E, no entanto…

Consideremos duas personalidades políticas contemporâneas como paradigmas da social-democracia: Olof Palme e Tony Blair. Reconheço-me na acção política de algum deles?

Não tenho problemas em afirmar que na Suécia, nomeadamente no tempo em que foi governada por Olaf Palme, se foi mais longe do que em qualquer outro país europeu (os de Leste inclusive) na defesa dos valores que, na minha opinião, devem subjazer a qualquer definição de socialismo – a liberdade, a democracia, a solidariedade, o bem-estar e a justiça social.

Mas a experiência social-democrata vivida nos anos 60-70 nos países da Europa do Norte não pode ser compreendida fora do contexto histórico em que ocorreu:

1) um ciclo de crescimento económico que vai dos anos 40 aos 70;
2) a divisão do mundo em dois blocos políticos e militares e a ocorrência da Guerra Fria;
3) a possibilidade de existência de acordos entre representantes da burguesia e das classes populares em torno da criação de um sistema de segurança social apoiado na acção do Estado e financiado por uma carga fiscal com um forte efeito redistributivo, tornados possíveis quer pelo contexto económico, quer pela necessidade sentida pelas democracias ocidentais de subtrair os movimentos populares à esfera de influência soviética.

Acontece que, a partir dos anos 70, a situação económica e política se alterou radicalmente. Passamos a viver num contexto de recessão económica, o bloco soviético desfez-se, a globalização capitalista trouxe consigo o dumping social e a facilidade de transferência de capitais para sociedades bancárias off-shore. Assistiu-se, então, a uma ofensiva das ideias e práticas neoliberais e a possibilidade de chegar a consensos em torno da defesa do Estado Providência tornou-se muito difícil. O capitalismo abdicou da sua máscara “socialista” e assumiu a sua verdadeira face.

E é então que nos surge uma social-democracia reciclada numa “terceira via”, exemplificada aqui por Tony Blair. Volto a perguntar-me: de que me servem estes exemplos?

O de Olaf Palme não me pode servir como receita, desde logo porque a doença de que o mundo de hoje padece ainda não se tinha então declarado. O de Blair também não, porque ele personifica a própria doença e não a sua superação.

Na verdade, no nosso tempo, a esquerda confronta-se quer com o fracasso do “socialismo real”, como com o da social-democracia. Parece-me que, perante problemas diferentes, teremos que inventar soluções novas. Seria mais fácil se pudéssemos dispor de receitas pré-fabricadas, prontas para usar… Para mim, seria muito confortável poder aceitar a “etiqueta” social-democrata que o João Delgado me quis colocar – tinha boa parte das minhas dúvidas resolvidas. Mas, infelizmente, parece-me que não consigo resolver tão facilmente os problemas que a mim mesmo me coloco.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Livros – apontamentos à margem (10)

James Rachels, Problemas de Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009


Há mais de um mês que não escrevia nada para esta rubrica do “formiga”. Foi um tempo onde as minhas leituras se orientaram para livros e temas que não me pareciam “compagináveis” (obrigado, Jorge Sampaio) com aquilo de que aqui se tratava. Regresso hoje a estes “Litvros” e regresso com a promessa de alargar a minha colaboração a outros temas que, não sendo apolíticos, são exteriores à política pura e dura.

Assim, o livro de hoje é o último volume (o 19º) da colecção “Filosofia Aberta” que começou a ser publicada pela Gradiva sob a direcção de Desidério Murcho e que, a partir do nº 18 passou a ser coordenada por Aires Almeida.

Aliás, gostava de deixar aqui umas primeiras palavras sobre a própria Colecção. É formada por uma série de livros assinados por filósofos que, muito genericamente, podemos situar no contexto da filosofia analítica, dominante nos países anglo-saxónicos. As diferenças que dividem a filosofia analítica de chamada filosofia continental não se encontram determinadas, sobretudo, pela existência de teses filosóficas diferentes (de facto encontramo-las nos dois campos referidos), mas naquilo a que poderíamos chamar uma diferença de atitude ou de estilo: enquanto, no primeiro caso, o debate filosófico se trava em torno de uma série de questões postas em comum (por exemplo, no campo da filosofia da arte, a diferença entre definições de arte normativas ou descritivas, de conceitos de arte abertos ou fechados, de propriedades artísticas observáveis ou não, etc.), procurando-se no quadro deste debate encontrar na clareza da exposição, na lógica da argumentação e numa possível verificação empírica, os fundamentos e os critérios que nos permitem validar ou infirmar as ideias expostas; no segundo caso, o debate sobre uma matéria comum passa para segundo plano, porque, e passo a citar Deleuze e Guattari, “quando um filósofo critica um outro, fá-lo a partir de problemas e num plano que não eram os do filósofo que critica”. Ou seja, como nota Dominique Chantal, enquanto a filosofia analítica promove o diálogo entre diferentes exposições filosóficas, a filosofia continental tende para o monólogo.

O “estilo” próprio da filosofia analítica rejeita o hermetismo e advoga a clareza da exposição, o que torna os livros da Colecção “Filosofia Aberta” acessíveis a leitores sem uma formação especializada nesta área.

O livro de James Rachels aborda temas como o problema da origem do universo (os argumentos da “causa primeira” e do “desígnio inteligente” obrigam-nos a aceitar a ideia da criação divina?), do mal (se Deus existe e é Bom, como justificar a existência do Mal?), da sobrevivência à morte (será possível admitir a existência de uma alma imortal?)… E a obra prossegue debatendo outras questões, que poderão ser analisadas isoladamente, mas que o autor vai encadeando numa sequência lógica que nos conduzem pelos caminhos da filosofia do conhecimento e da ética.

O livro de Rachels é uma introdução muito acessível e interessante a estes e a outros problemas filosóficos. A ler, no espírito da citação de Kant que dá o mote à Colecção “Filosofia Aberta”: “De mim não aprendereis filosofia mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes como pensar”.

sábado, 4 de julho de 2009

Escrita em dia (2)
OS TRÊS MANIFESTOS
As chamadas “grandes obras públicas” foi um outro assunto que, nesta semana, teve novos desenvolvimentos com a publicação de um 3º manifesto. Parece-me ser agora útil fazer o ponto da situação.

Passo por alto as críticas “ad hominem” e os argumentos fundados em reivindicações de autoridade entretanto esgrimidos, que nada esclarecem acerca das questões substantivas em disputa.

Os subscritores do 1º manifesto (Eduardo Catroga, Miguel Beleza, Daniel Bessa, Augusto Mateus, Silva Lopes, Medina Carreira, etc.), são economistas situados na área do PSD e do PS (embora não comprometidos com o Governo). Identificam o agravamento da dívida pública como um aspecto fundamental da actual crise económica. Portanto, sem se oporem frontalmente ao investimento público, colocam-lhe sérias reservas. Logo, pronunciam-se abertamente a favor da paragem do processo de implementação das grandes obras públicas projectadas (TGV, novas auto-estradas, aeroporto de Alcochete e 3ª ponte sobre o Tejo), de forma a permitir a sua reavaliação em termos de viabilidade e oportunidade.

Os subscritores do 2º manifesto (José Reis, Mário Murteira, Francisco Louçã, Boaventura Sousa Santos, André Freire, Jorge Bateira, João Rodrigues, etc.) são economistas e outros académicos relacionados com a ala esquerda do PS e a esquerda radical. Discordam dos termos do 1º na medida em que identificam o desemprego (e a ameaça de deflação) como o problema central da crise e consideram que o investimento público deve ter um papel estratégico na luta para a sua superação. O agravamento do défice é o preço que temos de pagar para a vencer. Não tomam uma posição específica sobre cada uma das “grandes obras”, mas defendem como prioritário o investimento público na reabilitação do parque habitacional, na expansão da utilização de energias renováveis, na construção de infra-estruturas de transportes úteis ou na melhoria dos serviços públicos essenciais, como saúde, justiça e educação.

Finalmente os subscritores do 3º manifesto (Luís Nazaré, Almerindo Marques, Filipe Soares Franco, etc.) são economistas próximos do Governo, gestores de grandes empresas públicas ou público-privadas e representantes das grandes empresas de construção civil). Defendem que o principal problema do país é o seu atraso estrutural e que parar o projecto das “grandes obras” seria comprometer a hipótese de o vencer, seria comprometer o futuro sucumbindo ao conservadorismo. Defendem, portanto, a construção das linhas de TGV e o novo aeroporto, embora admitam que possam ser feitos alguns reajustamentos ao nível da definição de prioridades em face das disponibilidades orçamentais.

Em termos gerais, a minha concordância vai para o 2º manifesto, embora julgue que urge tomar uma posição clara sobre as chamadas “grandes obras”. Os processos de concurso e adjudicação devem ser parados e a sua necessidade e oportunidade deve ser reanalisada caso a caso. Provavelmente, haverá obras que devem ser definitivamente abandonadas (a 3ª auto-estrada Lisboa-Porto), enquanto outras poderão ser revistas para a definição de prioridades, análise de alternativas e de eventuais alterações nos calendários de execução (o TGV, o Aeroporto).

Entretanto, os três manifestos publicados tiveram a virtude de colocar todas as cartas na mesa. E o Governo teve o bom senso de adiar decisões mais comprometedoras para depois das eleições. Então seremos todos nós chamados a pronunciar-nos, sabendo que cada um dos partidos que vão às urnas defenderá posições muito próximas das que são defendidas por um dos manifestos já apresentados. A decisão final passa pelo nosso voto.
Escrita em dia (1)
A MORTE DE
PINA BAUSCH

Um curto período de internamento hospitalar obrigou-me a interromper, na semana que agora termina, a minha colaboração no “formiga”. E, durante esses dias, aconteceram tantas coisas sobre as quais gostaria de ter dado a minha opinião!

De todas, destaco a morte de Pina Bausch. Quem está menos atento à dança contemporânea, talvez tenha visto o filme de Almodóvar, “Fala com ela”. Lembram-se da sequência inicial? Dois desconhecidos assistem, lado a lado, a um espectáculo de dança. O palco está juncado de cadeiras e uma mulher, sozinha em cena, percorre-o uma e outra vez, aflitivamente, de braços estendidos, esbarrando-se nelas, derrubando-as, lançando-se contra as paredes… Um dos espectadores emociona-se. Era “Café Müller”, era Pina Bausch e não era caso para menos.

Não viram? Podem ainda pesquisar “Pina Bausch” no Google, onde vão encontrar extractos de algumas das suas coreografias. Há, ainda, um DVD de Fernando Lopes, o documentário “Lissabon- Wuppertal-Lisboa”. E um livro: Pina Bausch, "Falem-me de Amor", Lisboa, Fenda, 2005. Continua a ser possível descobri-la.

Durante toda a semana, foram publicados imensos textos sobre esta extraordinária coreógrafa. Estão ainda disponíveis na Internet. Não vou acrescentar nada.

Pina Bausch esteve várias vezes em Portugal e recordo a luta tantas vezes travada para conseguir bilhetes para as representações do Wupertaler Tanztheater. Eram sempre em Lisboa, esgotavam-se horas depois de abrir as bilheteiras, meses antes da data do espectáculo… Algumas vezes consegui – fui um privilegiado!

Não posso acreditar que a companhia de dança que dirigia se vá dissolver após a sua morte. Tenho esperança de ainda a voltar a ver. Infelizmente, no Porto, não será, porque o Rivoli, por onde já passaram Bill T. Jones, Merce Cunningham, Trisha Brown e William Forsythe, está agora nas mãos de Filipe La Feria… A segunda cidade deste país já não tem uma sala vocacionada para espectáculos assim.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ESTÃO DE PARABÉNS
JOSÉ CARLOS SANTOS
E O SÓJAZZ

O programa Sójazz da Rádio Universitária do Minho , celebra no próximo dia 10 de Julho 20 anos de emissões regulares.

José Carlos Santos, o homem do Braga Jazz, conduz as sextas-feiras, entre as 22h00 e as 24h00, um programa dedicado a todos os jazzes do passado à actualidade, às novidades discográficas e as edições do jazz nacional e, sempre que possível, entrevistas com músicos nacionais.

Para que a festa seja completa, José Carlos Santos prepara no espaço cultural Pedro Remy, em Braga, no dia 10 de Julho, pelas 22h, um concerto comemorativo, com o quarteto "Supertrouper". O quarteto é constituído por André Fernandes (guitarra, electrónica), Mário Delgado (guitarra), Demian Cabaud (contrabaixo) e Marcos Cavaleiro (bateria).

Eu certamente lá estarei, conto entrar-vos por lá.
SOBRE O
TRATADO DE LISBOA
TRIBUNAL
CONSTITUCIONAL
ALEMÃO
TOMA POSIÇÃO


O Tribunal Constitucional alemão publicou no dia 30 de Junho o seu acórdão sobre a ratificação do Tratado de Lisboa, obrigando o Parlamento a proceder previamente a algumas alterações legislativas reforçando o seu papel no processo de tomada de decisões e controlo em matérias em que o Tratado dá mais poderes à União, nomeadamente naquelas matérias sensíveis em que o Conselho pode decidir por unanimidade que deixará de precisar de unanimidade para decidir.
O Parlamento alemão já tinha aprovado o Tratado de Lisboa e, na sequência dos problemas levantados, aprovou uma lei sobre esta matéria, redigida pelo governo, em que considerava que, nos casos acima mencionados, os deputados teriam de ser previamente “informados”. Mas o Tribunal Constitucional considerou que informar não chega, e que as duas câmaras do Parlamento devem sempre ter um voto decisivo nestas matérias. Apelou mesmo a que assumam maior responsabilidade pela integração europeia.
O governo não vê com bons olhos o aumento do poder de controlo do Parlamento sobre as suas atitudes e os seus votos nas reuniões do Conselho, que reduziriam drasticamente a capacidade negocial da chanceler Angela Merkel ou seus sucessores num forum onde as negociações de última hora ditam muitas vezes o sucesso ou fracasso das cimeiras.
Na Alemanha, as eleições legislativas vão realizar-se no mesmo dia que em Portugal: 27 de Setembro, o que deixa um prazo muito apertado para que as duas câmaras do Parlamento (Bundestag e Bundesrat) deliberem em conformidade antes da sua dissolução e antes do segundo referendo na Irlanda, a ter lugar no princípio de Outubro.
Uma sessão extraordinária do Bundestag foi marcada para 26 de Agosto, para uma decisão em primeira leitura, prevendo-se a segunda leitura a 8 de Setembro. Logo a seguir, a 18 de Setembro, o Bundesrat poderia ratificar a decisão final. Muitos se questionam se o Parlamento vai agora decidir autonomamente, ou se continuará a obedecer às ordens do governo, como fez com a lei anterior?
Só depois da decisão final do Parlamento, o Presidente da República poderá assinar o Tratado de Lisboa, completando o processo de ratificação. Normalmente, um processo deste tipo não se completaria em menos de seis meses.
Consulte aqui o texto completo do acórdão (em inglês): http://www.bundesverfassungsgericht.de/entscheidungen/es20090630_2bve000208en.html
JÁ SEI O QUE VAIS FAZER
ESTAS FÉRIAS
COM
OS TEUS AMIGOS

Pelo direito à imaginação e um mundo mais igualitário, os Jovens do Bloco de Esquerda promovem um encontro aberto a todos os jovens, de 17 a 21 de Julho, no Parque de Campismo "Ponte das Três Entradas", em Oliveira do Hospital. Festas, debates, workshops culturais, desportivos e artísticos, são alguns dos eventos que ocorrem neste espaço auto-gerido, contra as opressões e discriminações do quotidiano.

Contra o cinzentismo das vidas usurpadas, reclamamos o direito à liberdade, à vida, à imaginação. Festejamos a revolta contra todas as opressões. Acampamos, conversamos, debatemos e ensaiamos a construção de um mundo mais justo, mais igualitário, mais nosso.

Ana Drago, Luís Fazenda, Miguel Portas e Francisco Louçã marcam presença no acampamento para debater com os jovens temas que vão desde as eleições legislativas até à crise económica e o movimento estudantil. Do programa constam ainda diversos workshops, de dança, stencil, teatro do oprimido, massagens ou cozinha vegetariana. Racismo, feminismo, LGBT, drogas leves e precariedade são outros temas igualmente discutidos de forma aberta e descontraída. Contra o cinzentismo das vidas usurpadas, reclamamos o direito à liberdade, à vida, à imaginação. Festejamos a revolta contra todas as opressões. Acampamos, conversamos, debatemos e ensaiamos a construção de um mundo mais justo, mais igualitário, mais nosso. Podes ver aqui o
programa provisório de debates e workshops.

A prática de jogos e desportos preenche os finais de tarde e as noites serão animadas com festas temáticas.A inscrição no LIBERDADE2009 inclui a utilização do parque, o transporte organizado no primeiro e ultimo dias e a alimentação durante todo o acampamento.
Para te inscreveres
(in: http://www.blocomotiva.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1217&Itemid=1) copia o formulário, preenche-o e envia para liberdade@bloco.org.

Num espaço onde impera a auto-gestão, a democracia e a solidariedade, criamos formas de activismo contra as opressões e discriminações que sofremos diariamente.
De 17 a 21 de Julho, a revolta não tira férias e conta contigo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

FALTAM 78 DIAS

Sabe-se, todos sabemos, que a 17 de Agosto termina o prazo para a entrega de candidaturas para as próximas eleições autárquicas (11 de Outubro). Faltam pois 78 dias, e o PS ainda não tem candidato anunciado à Câmara Municipal de Braga.
Digo anunciado pois não é crível que o candidato seja outro que não o próprio Mesquita Machado. Não creio sequer que a questão passe por uma decisão do próprio, pessoal, pois a máquina instalada certamente não permite qualquer outra solução. Pelo menos enquanto a lei o permitir.
Isto, obviamente, em nada impede de prosseguir a todo o vapor a pré-campanha eleitoral do PS e do próprio Mesquita Machado.
Neste domínio têm sido férteis os jornais da terra: Diário do Minho (DM) e Correio do Mingo (CM). Tomemos a título de exemplo as edições de hoje (01/07/09).

1.- 17 MILHOES E 300 MIL EUROS
17 milhões e 300 mil euros, segundo o DM, ou 12 milhões e 141 mil euros, segundo o CM, para Parcerias de Regeneração Urbana do Rio Este e do Centro Histórico, 70% dos quais são fundos comunitários oriundos do FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional), (12 milhões e 110 mil euros ou 8 milhões e 498 mil e 700 euros, dependendo da fonte) ao abrigo do Programa Opcional Norte. A diferença de valores, em função da fonte, é tão “despiciente” que nem vou perder tempo a tentar perceber quem está certo, quem está errado.
No DM pode ler-se: “A Câmara Municipal de Braga viu ontem garantido o financiamento comunitário para algumas importantes intervenções, com vista à requalificação urbana da cidade – algumas das quais já estão em obra ou mesmo concluídas – onde se destacam a renaturalização do rio Este, o Parque da Ponte, a Escola de Música do Carandá, o Futuro Parque do Picoto e a Renovação da Avenida da Liberdade”.
É nestas alturas que me sinto ou um alienígena ou a viver uma realidade paralela ao melhor estilo BD.
Proponho um exercício de memória com possibilidade de escola múltipla:
· Renaturalização do rio Este.
Em obra? [ ] Concluido? [ ] Outra vez? [ ]
· Parque da Ponte.
Em obra? [ ] Concluido? [ ] Outra vez? [ ]
(a este propósito duas coisas: 1- Nestes 30 anos as únicas alterações significativas de que me lembro são a acelerada degradação do espaço e o abate criminoso de arvores/espécimes protegidas. Recordo ainda o horto que lá havia. 2- o que é aquilo que estão a erguer junto ao lago? Será mais uma parceria publico-privada? A câmara cede o espaço, o empreiteiro faz a obra e um particular explora em proveito próprio o que é de todos. Já agora, o acesso vai continuar a ser livre ou vai passar a ser condicionado?)
· A Escola de Música do Carandá.
Em obra? [ ] Concluido? [ ] Outra vez? [ ]
· O futuro Parque do Picoto.
Em obra? [ ] Concluido? [ ] Outra vez? [ ]
· Renovação da Av. da Liberdade.
Aquele arranjo de superfície é, de facto, obra. Não percebo o receio em sujeitar tais empreitados a um concurso público de ideias. Estou crente (nesta terra fica sempre bem ser ou estar crente) que qualquer desenho oriundo de qualquer infantário da cidade teria sido preferível.
Aqui não dou direito de opção pois é, para mim, evidente que a obra está longe de estar concluída.

(SOLUÇÔES: quem optou sistematicamente pela opção: Outra vez?[ ] não merece qualquer prémio pois constatar o obvio não tem mérito, quem não o fez deve dirigir-se apressadamente ao oculista mais próximo com passagem prévia e obrigatória por um oftalmologista).

2.- JÁ AGORA VAMOS A CONTAS
Requalificação do rio Este e das suas margens: 2 milhões e 500 mil euros, revitalização do Parque da Ponte: 893 mil euros, Parque do Monte Picoto: 3 milhões e 300 mil euros, Escola de Música do Carandá: 231 mil euros, projecto de mobilidade “TUBiclas”: 271 mil euros, projecto de intervenção cultural “BragaCult”: 150 mil euros, prolongamento do túnel da Av. da Liberdade: 3 milhões de euros, Centro de Informação e Acompanhamento a Vitimas de Violência Doméstica sito Rua São Domingos: 375 mil euros, adaptação do edifício antigo da Estação da CP: 272 mil euros, equipamentos de projecção de cinema para o Theatro Circo: 148 mil euros, Museu de Intervenção Cultural: 454 mil euros, requalificação de um vasto conjunto de ruas do centro urbano: sem verba especificada ainda que arrisque ser a mais avultada de todas.
É que tudo somado dá o bonito valor de 11 milhões e 594 mil euros, aquém dos 12 milhões e 141 mil euros do CM (a diferença 547 mil euros) e longe dos 17 milhões e 300 mil euros do DM (a diferença é de 5 milhões e 706 mil euros). Será certamente a requalificação de ruas urbanas mais cara da união, e provavelmente só encontrará paralelo no Dubai. Será que em vez do tradicional granito e calcário vão usar pedras preciosas. “Ganda Pedra”.

3.- 40 MILHÕES DE EUROS
Mais uma vez, 40 milhões de euros, segundo o CM, ou 30 milhões de euros, segundo o DM. São 10 milhões que andam aqui a “orbitar”. Peanut’s.
“Escolas secundárias do centro da cidade vão ser todas remodeladas”, garantia dada por Mesquita Machado diz o CM. 32 milhões e 500 mil euros vêm do Ministério da Educação, os restantes 7 milhões e 500 mil euros são da CMB.

4.- MESQUITA “DEMITE” MARIA DE LURDES RODRIGUES
Segundo o CM para o Presidente da CMB: “Muito mais importantes são os professores que, no concelho, constituem «um grupo profissional de excelente qualidade» e «dedicam-se de uma forma entusiasmada ao ensino». «Por vezes, os professores nem sempre são compreendidos. Há quem os não compreenda. E há quem teimosamente não os queira compreender. Eu compreendo-os e podem ter a certeza que a razão acaba sempre por vencer mesmo aqueles que sejam mais teimosos». Garantindo que a sua voz já chegou onde devia chegar”.
Mesquita Machado, temeroso que lhe aconteça o mesmo, aprendeu a lição que o outro engenheiro teima em não querer aprender: bajular os professores sacrificando a ministra. A mesma que ontem lhe prometeu entregar 32 milhões e 500 mil razões para o não fazer.

5.- PS DENÚNCIA FALTA DE IDEIAS DA OPOSIÇÃO
Não é de agora, mas o PS anda desbaratado, de cabeça completamente perdida. Em Braga também. Se o PS Braga se visse ao espelho certamente encontraria no seu reflexo a coligação PSD/CDS-PP. Daí não encontrar ideias novas, pois, se são iguais. A diferença está mesmo nos protagonistas. Quanto ao mais…